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A jornada de Alexandre, o Grande – Parte III

Leia: parte I e parte II

3. Dominando a Ásia e o fim do império

Quando Alexandre foi coroado e a notícia da morte de Filipe se espalhou, a campanha pan-helênica recém-formada começou a desmoronar. O motivo foi que as grandes cidades-estados não confiariam milhares de cidadãos a um jovem vaidoso e prematuro, capaz de estragar os planos do pai. Insatisfeitos, os tebanos foram os primeiros a se rebelarem contra o reino da Macedônia, dispostos a efetivar o rompimento. Mas o soberano não hesitou: zangado com o atrevimento de Tebas, ele erradicou-a do mapa e dizimou seus habitantes. Essa reprimenda serviu de aviso para que todas as demais cidades murchassem de medo e se subordinassem ao poderio alexandrino mediante consensos diplomáticos, caso contrário, enfrentariam o furor da guerra. Quem ousaria desafiá-lo, afinal?

Consolidada a coalizão greco-macedônica, os generais começaram a mapear as primeiras incursões rumo à Ásia Menor. Na época, o Império Persa dividia-se em satrapias, distritos territoriais governados pelos sátrapas. E o imperador persa Dario III, o Grande Rei, designara um mercenário grego chamado Mêmnon de Rhodes para reunir as forças satrápicas das imediações, bloquear o avanço de Alexandre pelo litoral e impedir que ele ocupasse os portos locais. Mas os macedônios já haviam dado provas suficientes de superioridade estratégica e tecnológica na engenharia bélica. Aos 22 anos de idade, em 334 a.C., Alexandre comandou mais de 25.000 infantes na Batalha de Grânico, e, mesmo em menor número em comparação com o exército de Mêmnon, conseguiu vencê-lo.

Quando os territórios eram conquistados, alguns permaneciam destruídos e outros tinham suas muralhas, jardins e santuários restaurados. Embora a meta principal de Alexandre fosse, a princípio, helenizar o mundo, o multiculturalismo fez-se inevitável em seus domínios. Exemplo disso é que ele se encantou com as Pirâmides de Gizé avistadas no deserto e fez visitas aos templos dos deuses egípcios, reverenciando-lhes em respeito às tradições. Lá, ele foi acolhido como o libertador que salvaria o Egito da tirania persa, e logo em seguida foi proclamado o novo Faraó. Nenhuma gota de sangue foi derramada. Entretanto, os recentes privilégios faraônicos não o detiveram. Destruir Dario III e controlar cada grão de areia da Ásia era uma aspiração impreterível.

Após Mêmnon ser derrotado nas margens do Grânico, o Grande Rei se preparou para um vigoroso contra-ataque. Em 333 a.C., quando montavam acampamento na costa de Miriandro, uma sentinela exortou as tropas macedônicas a empunharem as armas, pois naquele momento estavam sendo encurraladas por mais de cem mil guerreiros persas. Os soldados tiveram tempo para formar linha de frente em combate e colocar a sorte a seu favor. Essa era a Batalha de Isso, na qual os aguerridos helenos debilitam os persas, enquanto o Grande Rei foge para reagrupar novos guerreiros numa investida decisiva. No entanto, a vitória derradeira coube a Alexandre, que, na intensa Batalha de Gaugamela, em 331 a.C., suplantou o Império Persa e o enterrou sob a lápide de Dário III, o último imperador da dinastia Aquemênida.

Enaltecido como uma lenda viva, um semideus aos olhos dos homens, Alexandre leva um dos maiores impérios da Terra ao declínio. Ciente disso, ele decide marchar para a Índia, pretendendo arrogar-se dono de todas as riquezas ali concentradas. Tendo estabelecido sua autoridade apenas ao norte da região, milhares dos seus soldados, exauridos pela interminável expedição que iniciaram, postulam o retorno à Grécia. O próprio Alexandre, a contragosto, cogita atender a essas solicitações ao ser informado de que uma sublevação oriunda da Europa, o futuro Império Romano, ameaçava sua supremacia no Ocidente. Eis aqui um dilema: regressar e conter a ascensão de Roma ou prosseguir pela Ásia, deixando a retaguarda vulnerável. Quanto aos súditos, apenas aos idosos e veteranos foi dada a permissão de retornar ao calor das esposas, mas o insaciável soberano continua com sua campanha até a morte.

Decidir continuar recompensa-o com a beleza magnificente dos palácios da Babilônia, dos quais se apodera de imediato. Contudo, um súbito mal-estar invadiu seu corpo e, perto de completar 33 anos, Alexandre, o Grande, morre. Possivelmente ele padeceu de intoxicação alimentar, disenteria e febre, ou talvez tivesse sido vítima de envenenamento, a mais temida perfídia que assombra os grandes reis (se os antigos especialistas fizeram autópsia, o laudo cadavérico perdeu-se no tempo). Seja como for, é notável que, em apenas 12 anos de governo, Alexandre manteve-se invicto em todas as batalhas que travou. Ele foi rei da Macedônia, líder da Grécia, Faraó do Egito, Grande Rei dos persas, rei da Babilônia e quase imperou sobre toda a Índia, e em pouquíssimo tempo isso se dissolveu. Mesmo depois de morrer, cidades carregaram o seu nome, de Alexandria a Alexandrópolis, e monumentos foram erguidos em sua homenagem, como o Farol e a prolífica Biblioteca de Alexandria etc.

Certamente que a Antiguidade é um momento complexo da nossa história, e as nuances daquela época não se reduzem às conquistas de um único homem. Mas o império de Alexandre penetrou em lugares tão remotos da Terra, contribuiu tanto com a difusão da cultura grega no período helenístico, que me pergunto se seu ex-mentor Aristóteles sentiria orgulho dele…

Ricardo Silas

Ricardo Silas

Estudante de História (UFRB), 25 anos.