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12 perguntas céticas sobre astrologia

Uma das crenças mais arraigadas no imaginário popular diz respeito, na sua forma tradicional, a uma possível divinação baseada na posição de astros e movimentos de corpos celestes com relação ao momento do nascimento do indivíduo. O ramo da astrologia mais popular atualmente, pelo menos no ocidente, foi estabelecido pelos gregos que basicamente fundamentaram algo que já vinha sido desenvolvido pelos babilônios 450 anos antes de Cristo.

Manuscrito zodíaco do século 14.
Manuscrito zodíaco do século 14.

É fácil encontrar excelentes textos complementares (aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), bem como vídeos e áudios (aqui e aqui) sobre o assunto na internet. Além disso, estudos experimentais já foram publicados em jornais científicos avaliados por pares com o objetivo de estudar a validade da hipótese astrológica, e nenhum desses mostrou resultado favorável para a validade da prática. Em síntese, vários desses estudos mostram que não há diferença significativa entre o acaso e as previsões astrológicas. Em outras palavras, se uma pessoa não astróloga tentar divinações ela provavelmente terá uma taxa de acerto não muito distinta daquela obtida pelo astrólogo. Alguns desses estudos são: estudo empírico da personalidade e fatores astrológicos, diferenças de personalidade entre gêmeos, demonstração da não eficácia da astrologia, estudos de meta-análise (uma técnica estatística desenvolvida para integrar os resultados de diversos estudos) sugerem que os astrólogos não são capazes de predizer com significância maior seus resultados do que se esperaria se alguém fizesse semelhantes predições ao acaso.



1. Quais os astros influenciam na astrologia?

São os planetas do nosso sistema solar, provavelmente. Mas luas, asteroides e satélites artificiais também estão presentes na via láctea. Somente em nosso sistema há dois cinturões de asteroides relevantes que no somatório de suas massas poderiam ser equivalente a massas de planetas. Além disso, é curioso que outros astros não influenciem na vida das pessoas, como galáxias, quasares e buracos negros (Ainda é importante ressaltar que praticamente todas as estrelas visíveis ao olho nu são pertencentes a nossa galáxia. Estimativas apontam para mais 170 bilhões de galáxias no Universo observável. Há dois mil anos atrás não havia telescópios, e portanto o olho humano limitado não era capaz de considerar a existências de outros objetos estelares).

2. O planeta Terra não influencia na astrologia?

Talvez o astro mais importante, e que provavelmente poderia ter grande influência, é o planeta Terra, e que aparentemente não e é considerado pela astrologia. Apesar de não estar projetada no céu está projetada no chão. Parece-me arbitrário dizer que só o que está projetado no céu tem influencia e as demais projeções não.

3. Gêmeos monozigóticos possuem características idênticas?

Gêmeos geneticamente idênticos possuem comportamentos distintos.

4. Em que momento você nasceu?

É difícil definir o horário que o bebê nasce. É muito arbitrário: No corte do cordão umbilical; ou na hora que enfermeira anota depois de ver o relógio, que, talvez, possa não ser exatamente o horário de fato; ou ainda é horário em que a mãe do bebê decide ser a correta, e que por motivos de exaltação emocional do momento, não é necessariamente o horário correto (“horário correto” é outra coisa de difícil definição).

5. A previsão astrológica só funciona depois do nascimento?

Então deve existir alguma espécie de mágica na placenta que impede a astrologia ser aplicada ao feto também.

6. A astrologia tem relação com algum componente genético?

Macacos possuem um DNA muito semelhante a nossa espécie. Talvez exista uma astrologia do macaco também. Mas é curioso que a arrogância antropocêntrica não abra espaço para esses estudos. Pois qual motivo da astrologia funcionar para uma espécie e não para outra. Se existe a relação com os genes, vale ressaltar que bananas possuem um código genético mais extenso que o do ser humano. Seria legal poder ler diariamente o horóscopo das bananas. E isso é uma hipótese bem coerente, visto que há evidências que sugerem que metade do DNA dos humanos é semelhante ao das bananas.

7.  Mera coincidência?

Dado a quantidade imensa de corpos celestes no cosmos, é improvável não encontrar uma correlação entre um determinado objeto celeste e um evento específico (desastres, posse de reis que modificaram a história, ou até mesmo acontecimentos pessoais). Entretanto, correlação não é sinônimo de causa e consequência.

8. Astrologia é científica?

Embora possa ser uma tarefa filosoficamente extensa definir o que é ciência é possível tomar alguns atalhos que não comprometem a visão global da prática científica atual. Esta se faz através de produção de conhecimento justificado e sistematizado. Existem jornais científicos nos quais os pesquisadores submetem suas pesquisas que serão avaliados por seus pares. A astrologia não produz conhecimento sistemático, e seu objeto de estudo, se existe de fato, é confuso e obscuro. O ônus da prova de mostrar a validade da astrologia cabe aos astrólogos, e se querem o status científico devem seguir o escrutínio da mesma maneira que outras áreas seguem. Ainda assim, vários experimentos já foram realizados na tentativa de mostrar a validade da astrologia. Até o momento não existem evidências que a que funcione. Portanto, há uma garantia justificada na alegação que a astrologia não é ciência. Por outro lado, algo não ser científico não significa que não pode ser válido em alguma outra aplicação ou que sua manifestação deve ser impedida.

9. Qual o critério da sua astrologia ser mais provável que a minha astrologia?

Somente na astrologia Hindu há três segmentos (Siddhānta, Saṁhitā, Horā). Além desses, atualmente ainda existem versões chinesas, tibetanas, etc. Em resumo, basta abrir o programa “stellarium” (simulador do céu de qualquer local do mundo em qualquer época), que você poderá simular as diversas constelações de diversos povos além dos citados, como egípcios, polinésios, navajo, tupi-guarani…

Naturalmente que nenhuma dessas constelações são semelhantes a constelação dos zodíacos. Justamente porque são desenhos arbitrários e distintos em cada cultura.

10. Em que você acredita?

Desde o século 16, com a manifestação do Papa Sixtus V, a igreja cristã  tem se posicionado contra a astrologia. Alguns pensadores, como Lutero, Calvino e Agostinho de Hipona condenaram a prática da astrologia. Uma visão determinista do mundo compromete o livre-arbítrio. Além disso, a vida das pessoas poderia não ser comandada por uma entidade divina, mas sim pelos astros. Sem entrar no mérito da crença religiosa, é curioso que algumas pessoas continuam mantendo crenças que, muitas vezes por falta de reflexão crítica, são contraditórias quando comparadas.

11.  A astrologia é dependente das constelações?

A versão ocidental da “atual” astrologia data de mais de dois mil anos atrás. Desde então pouca coisa mudou. Naquela época o sol passava por 12 constelações. Atualmente, ele passa por 13 constelações. Na prática, há uma constelação extra pela qual o sol é projetado atualmente, chamada de Ophiuchus (ou Serpentário). Isso pode ser facilmente verificado no programa supracitado (“Stellerium”), no qual é possível simular as constelações por onde o sol é projetado atualmente bem como por qual passava há dois mil anos atrás.

12. Meu signo é mesmo o que dizem?

O mesmo motivo acima que faz o sol passar por uma 13° constelação é o que faz o sol não passar atualmente pela constelação que passava há dois mil anos atrás (devido ao movimento de precessão da Terra). Ou seja, naquela época eu realmente era de câncer, porém hoje, em Julho, o sol passa pela constelação de gêmeos, e no ano 10.000, no mesmo mês, o sol estará em Peixes. Em outras palavras, no passado eu era de câncer, no presente sou de gêmeos e no futuro serei de peixes.

Link para o download do “Stellarium”, aqui.

Cicero Escobar

Cicero Escobar

É doutorando em engenharia química pela UFRGS onde desenvolve pesquisa experimental sobre fotocatálise e outras coisas a mais em um reator químico (que alguns chamam, com razão, simplesmente de béquer). Cursou disciplinas de astronomia e exobiologia também pela UFRGS. Em dezembro de 2011 fez contato intraterrestre com astrobiólogos e astro-simpatizantes no Sao Paulo Advanced School of Astrobiology (pela USP). Desde então é um entusiasta de temas como origem da vida e possibilidade de vida extraterrestre.