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Toxina de algas azuis pode ajudar a entender doenças demenciais

Notícia no BBC News Health e no ABC Science
Estudo publicado no The Royal Society Proceedings B

Este estudo, publicado ontem, aponta que foi encontrada correlação entre a ingestão da toxina β-N-metilamino-L-alanina (em inglês, BMAA) e o desenvolvimento de doenças com quadro clínico similar ao Alzheimer e outras doenças demenciais ou crônico-degenerativas, especialmente uma associação do Alzheimer com a esclerose lateral amiotrófica (ELA; em inglês, ALS).

Clique para ver a comparação do cérebro normal com o cérebro de um paciente acometido de Alzheimer.

A toxina é produzida por cianobactérias (conhecidas como algas azuis) que são comuns no entorno da Ilha de Guam, localizada no Pacífico. Essas cianobactérias vivem associadas a raízes de plantas cicadófitas (Cycas micronesica). Os habitantes da ilha, o povo Chamorro, se alimenta de sementes das plantas contaminadas com a toxina, fazendo uso delas em receitas da culinária local. Além disso, consomem carne da caça de animais que se alimentam dessas plantas.

Cycas revoluta, cicadófita similar à Cycas micronesica, planta consumida pelo povo Chamorro.
Cycas revoluta, cicadófita similar à Cycas micronesica, planta cujas sementes são consumidas pelo povo Chamorro na forma de farinha para produção de tortilhas.

O povo Chamorro possui um quarto dos indivíduos adultos sofrendo com estas doenças neurodegenerativas. Tudo sugere que há deposição de placas de proteína amiloide nos cérebros desses indivíduos, assim como acontece nos cérebros típicos de pacientes com Alzheimer.

Em laboratório, como forma de testar essa hipótese, os pesquisadores utilizaram o símio Chlorocebus sabaeus num experimento durante 140 dias, envolvendo a administração de doses dessa toxina na dieta destes animais. O controle foi alimentado com uma dieta contendo L-serina, um aminoácido descrito como protetor contra a toxina em culturas de tecido neuronal humano.

O grupo usado no controle não desenvolveu a doença, enquanto que o grupo alimentado exclusivamente com a toxina desenvolveu o quadro clínico da doença neurológica. Adicionalmente, os animais que foram alimentados com a combinação das duas dietas desenvolveram a doença neurodegenerativa em menor grau.

Os pesquisadores estão realizando novos experimentos para determinar a interferência de fatores como a idade. Há indicação que o emprego da L-serina na dieta leva à redução do risco de doenças similares.

Pedro H. Costa

Pedro H. Costa

Bacharel em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuo desde 2012 no Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas, pela mesma instituição. Interessado em saúde, educação, ciência e filosofia. Faça uma pergunta: ask.fm/phcs91