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Seis maneiras de estimular o pensamento crítico

Muitos confundem pensamento crítico com “dar a sua opinião”, contudo essa ideia generalizada é errônea. É perfeitamente possível dar opiniões mal formuladas, com argumentos inválidos e que carecem de sustentação. Pensar criticamente envolve clareza, argumentos sólidos, rigorosos e sistemáticos com base em evidências. Algumas práticas podem ajudar a desenvolvê-lo, são elas:

  • Estude Lógica Informal e evite usar falácias

Para ser um pensador crítico é crucial que saiba identificar falácias na argumentação e saiba argumentar de forma válida. O termo falácia vem do latim fallere, cujo significado pode ser expresso como um raciocínio errado que possui aparência de verdadeiro. As falácias mais comuns são: Ad hominem, Ad populum, apelo à autoridade, espantalho etc.

Evite somente acusar o oponente de estar sendo falacioso, pois isso pode recair na “falácia da falácia”, não é porque um argumento está mal formulado que a sua alegação contrária é verdadeira. Se o seu oponente não tem muita familiaridade com lógica, explique para ele o motivo do seu argumento ser inválido.

  • Procure manter uma posição cética frente aos acontecimentos

Fuja de títulos sensacionalistas em manchetes de jornais, teorias conspiratórias, métodos holísticos de cura, que usam e abusam de termos como “quântico”, “nuclear” etc. A forma exagerada dessas alegações é, muitas vezes, inversamente proporcional ao conteúdo. Carl Sagan já dizia: “Alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”.

Cuidado com superstições, evite assumir que acontecimentos seguidos possuem uma relação de causalidade, antes de tomar conclusões esgote as possibilidades. Coincidências acontecem.

  • Estude por fontes boas e confiáveis

A internet é uma ferramenta que dispõe um acervo enorme de informação. No entanto, muito do que está disponível carece de embasamento teórico. Existem uma infinidade de sites que dizem ser científicos, mas com a desculpa “entretenimento” inventam as mais esdrúxulas teorias.

Prefira se informar por papers em revistas científicas de alta credibilidade. Você pode encontrar artigos científicos em sites como o pubmed, o google scholar e ao contrário do que normalmente é difundido, as referências dos artigos na Wikipédia podem ser muito úteis.

  • Desconfie de gráficos e estatísticas que não apresentam o percentual de amostragem

Nem todo dado estatístico vinculado pela mídia está errado e merece ser desconsiderado, que fique claro. Mas é preciso ter cautela, uma forma de enganar as pessoas sobre algum assunto é apresentar gráficos e estatísticas que se mostram incompletos quanto às fontes e o percentual de amostragem.

Imagine o seguinte exemplo: se alguém diz que 33,33% de estudantes em um determinado curso ficaram milionários, você poderá considerar a possibilidade de se matricular, já que ao que parece, as chances deste curso te fazer milionário são grandes. Mas se ao invés disso, te dizem que no curso restaram apenas três alunos de um total de 30 e um deles ficou milionário, o efeito “propagandista” não se mantém. Em uma pequena amostra, o resultado obtido pode ter decorrido por acaso.

  • Seja honesto intelectualmente

Honestidade na aquisição, transmissão e análise de ideias. Nada de deturpar ou omitir informações só para que corroborem com suas crenças. Não retire conclusões e afirmativas sobre artigos científicos que não possuem respaldo na pesquisa. Uma pessoa honesta também admite erros. Ninguém está isento deles, saiba valorizar a divergência.

Tanto opiniões a favor como contra devem ser analisadas com rigor e o mínimo de parcialidade. Use citações do autor quando uma crítica se referir a ele, para que as pessoas possam conferir se o conteúdo sustenta as alegações. Honestidade é fundamental para que o debate avance.

  • Tenha mente aberta

Dogmatismo não combina com pensamento crítico. Não assuma uma posição arrogante de que conhece tudo, perceber-se ignorante é um passo para o conhecimento. Esteja aberto a discutir novas e velhas ideias e a olhar com novas perspectivas sobre um assunto. Mas não tão aberto ao ponto de cair o cérebro, como alertava Sagan.

Sempre devemos estar dispostos a mudar de opinião, mas apenas quando evidências fortes nos sãos apresentadas. Essa é a parte mais difícil, assim como nos lembra Karl Popper, é impossível discutir racionalmente com alguém que prefere nos matar a ser convencido pelos nossos argumentos.

Amanda Soares de Melo

Amanda Soares de Melo

Estudante de Filosofia da Universidade Federal do ABC no estado de São Paulo, possui graduação em Ciências e Humanidades pela mesma universidade. Interessa-se por filosofia da ciência, nas subáreas: filosofia da biologia e filosofia da matemática. Amante das ciências e das artes.