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Princípios filosóficos da pesquisa psicológica

Por Mario Bunge
Publicado em Filosofia para Médicos

Submeto à consideração dos leitores a tese de que todos os princípios filosóficos enunciados abaixo são adotados por alguns, talvez a maioria, dos pesquisadores em psicologia científica. Mesmo que apenas alguns desses princípios figurem na investigação psicológica, seria o suficiente para provar a tese de que a psicologia contém princípios filosóficos, tanto de quem nega.

  1. Muitos eventos (em tradução literal, estados), em particular, eventos mentais (em tradução literal, psicológicos), são cognoscíveis, mesmo que apenas parcialmente, imperfeitamente e gradualmente.
  2. Um animal (incluindo um ser humano) pode conhecer um objeto concreto somente se ambos puderem se conectar mediante sinais de que o primeiro poderá ser detectado e decodificado («interpretado»).
  3. A experiência comum (ou intuição) é necessária, mas insuficiente para entender os sistemas complexos, tais como os seres humanos e a sociedade humana: por isso, devemos também fazer uso da observação, da experimentação e da teoria.
  4. A observação e a experimentação deverão ser guiados pela teoria, e por sua vez, isso deverá ser testado de acordo com os dados observacionais ou experimentais.
  5. Nas ciências, a descrição é necessária, mas insuficiente: também devemos tentar explicar, afim de entender. Devemos realizar também predições, tanto para contrastar as nossas hipóteses como para planejar as nossas ações.
  6. Explicar um processo mental de forma profunda e verificável é expor o(s) seu(s) mecanismo(s) neurofisiológico(s).
  7. As hipóteses imprecisas programáticas, de forma que «a variável e depende da variável x», assim como as correlações estatísticas, não são resultados finais da investigação. Na melhor das hipóteses, elas são pontos de partida para projetos de investigação e para orientar a uma busca por leis.
  8. A psicologia é uma ciência, não é um ramo da literatura, e é ao mesmo tempo tanto biológica como sociológica (ou seja, é uma ciência socio-natural).
  9. As fronteiras entre os diversos capítulos da psicologia são um tanto artificiais (ou arbitrários) e variáveis. Isso ocorre porque cada um desses capítulos estuda funções específicas de uma parte de um único sistema nervoso.
  10. É desonesto inventar dados, propor deliberadamente conjecturas inverificáveis, publicar textos incompreensíveis e utilizar psicoterapias ou tratamentos psiquiátricos que não foram validados experimentalmente.

Não dispus de lugar algum para defender ou atacar estes princípios, uma tarefa que foi realizada em outros lugares. A única coisa que importa no momento é que essas proposições e negações são filosófico-científicas, porque (a) contêm conceitos filosóficos e científicos; (b) pertencem à filosofia (ou meta-teoria) da psicologia; e, (c) são adotadas (ou explicitamente rejeitadas) por pesquisadores em psicologia.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.