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Por que “teoria” é uma palavra tão confusa?

Por Marcelo Gleiser
Publicado na National Public Radio

Teoricamente falando, há uma confusão generalizada sobre a palavra “teoria”. Certo?

Muitas pessoas interpretam a palavra como conhecimento indefinido, baseado principalmente no pensamento especulativo. Ela é usada indiscriminadamente para indicar coisas que conhecemos — isto é, baseadas em evidências empíricas concretas — e coisas das quais não temos certeza. Não é uma boa mistura, especialmente quando certas teorias dizem respeito diretamente às sensibilidades religiosas e baseadas no valor das pessoas, como a “teoria da evolução” ou “teoria do Big Bang”. Existe também o perigo de cair nas armadilhas de significado estabelecidas por grupos com agendas específicas.

A definição de “teoria”, de acordo com o New Oxford American Dictionary (NOAD), não ajuda:

  • Uma suposição ou um sistema de ideias destinado a explicar algo, especialmente algo baseado em princípios gerais independentes da coisa a ser explicada: a teoria da evolução de Darwin.
  • Um conjunto de princípios sobre os quais se baseia a prática de uma atividade: uma teoria da educação.
  • Uma ideia usada para explicar uma situação ou justificar uma linha de ação: minha teoria seria a de que…

Assim, há um uso dentro de um contexto científico (“a teoria de…”) e em um contexto subjetivo (“minha teoria é…”) — um problema óbvio.

Quando usado no contexto de uma frase, como “em teoria”, fica pior. Segundo a NOAD, “usada para descrever o que é suposto acontecer ou ser possível, geralmente com a implicação de que não acontece de fato”. Claramente, neste contexto, “em teoria” significa algo que provavelmente está errado.

Não me admira que haja confusão. Isso é confuso!

Um primeiro passo para tentar esclarecer o(s) significado(s) de teoria é entender em que contexto a palavra está sendo usada e manter diferentes contextos separados. Assim, se um cientista está usando a palavra teoria, como em “teoria da relatividade”, “teoria da evolução” ou “teoria do Big Bang”, ela deve ser entendida como uma afirmação dentro de um contexto científico. Nesse caso, uma teoria com certeza NÃO é mera especulação subjetiva, ou algo que esteja provavelmente errado, mas, pelo contrário, é algo que foi examinado pelo processo científico de validação empírica e, até agora, tem passado no teste de explicar os dados.

Infelizmente, mesmo dentro do contexto científico, a palavra é mal utilizada, o que só aumenta a confusão. Por exemplo, “teoria das supercordas” refere-se a uma teoria especulativa em física de alta energia onde os blocos de construção fundamentais da matéria não são partículas elementares, mas minúsculos tubos vibrantes de energia. Dada a falta de apoio empírico até agora para a ideia, a “hipótese das supercordas” seria uma caracterização muito mais apropriada. Os cientistas podem saber o status da hipótese, mas a maioria das pessoas não. Devemos ter mais cuidado.

Uma teoria científica é um acúmulo de conhecimento construído para descrever fenômenos naturais específicos, como a força da gravidade ou a biodiversidade, que foi aprovada pela comunidade científica. Isso é o melhor que podemos encontrar para obter o senso de natureza em um determinado momento.

Tenha em mente que, como nossa compreensão dos fenômenos naturais mudam, as teorias também podem mudar. Isso não significa necessariamente que as velhas teorias estejam erradas. Isso geralmente significa que as velhas teorias têm um alcance limitado de validade não coberto por fenômenos recém-descobertos. Por exemplo, a teoria da gravidade de Newton funciona muito bem para enviar foguetes para Netuno, mas não para descrever um buraco negro. Novas teorias nascem de brechas nas antigas.

Infelizmente, a suspeita de certas teorias científicas pode advir da confusão da especulação subjetiva com a descrição objetiva. Uma teoria científica é diferente de uma hipótese científica. Uma hipótese científica é uma ideia ainda não empiricamente testada e, portanto, ainda não aprovada pela comunidade científica. Uma teoria é uma hipótese que foi testada e aprovada.

Muita confusão popular poderia ser evitada se a palavra teoria fosse compreendida dentro do contexto correto. A armadilha frequentemente usada de explorar o duplo significado da palavra teoria para confundir ou deliberadamente induzir a opinião popular deve apenas pegar aqueles que não sabem ou optam por negligenciar o que a teoria significa dentro de seu contexto científico ou subjetivo.

Marcelo Gleiser

Marcelo Gleiser

Appleton Professor of Natural Philosophy at Dartmouth College, USA. Professor of Physics and Astronomy at Dartmouth College, USA. Writer, blogger, public lecturer.