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Por que o moto perpétuo é impossível?

Uma determinada empresa em Porto Alegre – RS, afirma que será capaz de produzir energia infinita, mas será mesmo possível?

Não sou um físico ou matemático, tenho noções de ambos, portanto gostaria de saber se haveria uma explicação simples e elegante para isso. Ouvi, li e assisti todos os tipos de matérias sobre o tema, demonstrando os dois lados de pensamento, sendo que a maioria quase absoluta afirma veementemente que tal máquina é apenas fruto da imaginação humana. Mas por quê?

De forma resumida, um moto-contínuo (nome também utilizado), seria uma máquina capaz de gerar mais energia do que consome e dessa forma, ser um gerador a partir do seu próprio trabalho, simplificando ainda mais, ela gera energia a partir do nada. Físicos explicam que isso é impossível, pois uma coisa assim iria contra as Leis da Termodinâmica, que são muito bem estabelecidas e a todo instante mais testes, tanto práticos quanto teóricos, estão sendo feitos para mostrar sua veracidade. Outro fator para provar sua inexistência, é que ela quebraria a Lei Áurea da Mecânica, onde diz que o trabalho aplicado é maior ou igual que o trabalho realizado, ou seja, nenhuma máquina pode ter eficiência maior que 100% (e nem de 100%, pois viola a Segunda Lei, como irei dizer mais abaixo), que seria uma forma de gerar energia a partir de seu próprio trabalho. Até aí tudo bem, são explicações bem convincentes, ainda mais se você for um físico e entender a fundo a matemática por trás disso. Mas por que alguns insistem em construir tal máquina ou acreditar nesta ideia? A resposta me parece simples, já que muitas pessoas acreditam que Newton e outros cientistas possam estar errados ou não totalmente certos, o que não é nada difícil, já que algumas destas leis estão há mais de 300 anos em vigência e não existiam computadores ou instrumentos similares em suas origens. Também o entendimento do Universo na época era bem limitado. Muitos físicos até tentam quebrar o que eles chamam de “Castelo de Newton”, que representa todos esses anos de leis muito bem fundamentadas. Creio eu, que acharemos erros e falhas nas ideias de Newton, o que já vem acontecendo na Física Moderna. Mas vamos as classificações de Moto-Perpétuo:

– Moto-contínuo de primeira espécie: Viola a primeira Lei, gerando mais energia, na forma de trabalho ou calor, do que consome.

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Crédito da Imagem: Wikipédia

– Moto-contínuo de segunda espécie: Viola a segunda Lei, tendo um rendimento de 100%. Essas são aquelas máquinas incrivelmente complexas, com centenas de engrenagens, roldanas e aparatos e, teoricamente, funcionaria pela eternidade sem necessidade de mais energia do que a inicial.

Crédito da Imagem: Klick Educação
Crédito da Imagem: Klick Educação

– Moto-contínuo de terceira espécie: A definição mais utilizada não se refere a terceira Lei, é apenas colocada como terceira espécie para seguir a ordem. Nessa explicação, a máquina eliminaria completamente o atrito e qualquer outra coisa que dissipe energia e manteria sua inércia perpetuamente. Nesse caso não serviria para produção ou funcionamento da energia, mas seria uma ótima forma de estocagem para tal. Essa é a concepção mais “mística” entre todas as outras, pois o atrito e a dissipação de energia zero nunca fora encontrada, mostrando mais uma incoerência.

Tudo bem, mas até agora não foi explicado o porquê de tais máquinas não serem possíveis, pois bem, aqui vou eu com minha analogia. Imagine você, uma hidrelétrica como conhecemos. Essa hidrelétrica tem capacidade de alimentar 100 casas e não mais do que isso (supondo que o consumo destas casas seja sempre o mesmo). Então, um belo dia, uma família nova chega nessa cidadezinha e constrói mais uma casa, os vizinhos avisam-nos que não terão energia, mas mesmo assim, no fim da noite, a casa está iluminada. Como? Ou eles estão roubando a energia de outra casa, ou eles estão tirando a energia de outro lugar, seja um gerador a diesel, seja outra hidrelétrica, ou seja o que for, mas a energia desta casa precisa vir de algum lugar.  Agora imagine o Universo (tudo que existe após o Big Bang) como essa hidrelétrica e cada galáxia como uma casinha. O Universo é um sistema fechado, e como todos sabemos, “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, então cada galáxiazinha tem uma quantidade de energia a qual consegue trabalhar, que foi retirada do Big Bang, e cada estrela ali dentro, retirou sua energia da galáxia, assim como cada planeta. Então, cada habitante de um planeta qualquer, irá tirar a energia de seu próprio planeta, que foi retirada de sua galáxia, que foi retirada do Big Bang. Então se alguém chegar e construir um moto perpétuo, essa energia irá vir de onde? Como no caso da hidrelétrica, ou ela está roubando de outra “casa” ou está roubando de outro sistema energético.

No primeiro caso, se trata apenas de um espertinho que disse ter criado algo que gera energia a partir do nada, mas na verdade tem outro sistema escondido, como já aconteceu uma vez na história, com John Ernst Worrell Keely, que afirmou ter criado uma nova força motriz, que ele apelidou de “vapórica” ou “força etérica”. Por muitos anos ele recebeu investimentos de várias pessoas e industrias, pois mostrava essa máquina funcionando para qualquer pessoa que quisesse ver, porém sempre se recusava a dar grandes detalhes e a produzi-la em massa. Conseguiu fundar sua própria companhia, a Keely Motor Company e se tornou um milionário. Depois de sua morte, uma pesquisa foi feita para descobrir como a máquina funcionava, para a surpresa e indignação de todos, quando os engenheiros removeram as paredes da casa de Keely, encontraram tubulações e cintos mecânicos ligados a um motor de água silencioso que ficava dois andares abaixo, no subterrâneo da casa. Além disso, no porão, foi encontrado um motor de ar comprimido de três toneladas, que tinha ductos e condutores ligados por toda a casa de forma oculta.

Créditos da Imagem: Conoplja News
Keely (à esquerda) e sua máquina.
Créditos da Imagem: Conoplja News

No segundo caso as coisas ficam mais complicadas. Retirar a energia de outro sistema, é algo difícil de se imaginar, pois o sistema em que estamos falando é o próprio Universo, ou seja, basicamente é tudo existente. Então, se alguém construir um moto perpétuo, duas coisas poderão ser provadas, ou existem mesmo outros universos e a energia é retirada de lá, ou existe mesmo um Deus, que consegue criar tudo a partir do nada e por ser onipotente, tem capacidade de quebrar e criar qualquer a Lei que queira. Se existir outro universo e a energia para máquina ser retirada de lá, outra discussão tem que ser colocada em vista, afinal, a energia pode simplesmente deixar de existir em um sistema fechado, no caso, o outro universo? Ou o outro universo é complementar ao nosso e o sistema fechado na verdade é um “Multiverso”? E se for um Multiverso, até que ponto pode se extrair energia de outros universos e concentrar apenas em um só? A propósito, se essa ideia do multiverso for real, a energia não foi criada a partir do nada e nem tem eficiência infinita, então não é um moto perpétuo. Asimov, como sempre com sua genialidade incrível, retrata essa condição no livro Os Próprios Deuses, onde é descoberta uma nova e revolucionária fonte de energia que aparentemente é um moto perpétuo, mas depois é revelado que se trata da troca de energia entre dois universos. Agora, se for Deus a explicação, as coisas se tornam bem mais fáceis, só não entendo o porquê de ele dar energia infinita a um reles humano, já que não demoraria muito para que suas próprias criações também se tornassem deuses.

Ainda esperamos pela máquina aqui falada, se ela é possível, pelo menos não há evidências suficientes para tal. Então aqui fica uma das máximas do ceticismo e frase marcante de Carl Sagan, que diz que alegações extraordinárias, requerem evidências extraordinárias.

Referências:

01 – Keely.
02 – Moto Contínuo.
03 – Primeira Lei.
04 – Segunda Lei.
05 – RAR Energia LTDA.

Guilherme Passos

Guilherme Passos

Estudante de Ciências Biológicas (pegando cadeiras de outros cursos vez ou outra), Divulgador Científico, Debunker e Criador de Conteúdo na Universo Racionalista. Apaixonado por conhecimento, seja ele provindo da Filosofia, Ciências Naturais, Humanas e/ou Sociais, nunca consegue satisfazer ao máximo sua curiosidade.