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Por que não vemos estrelas nas imagens feitas na Lua?

Mesmo após 46 anos desde que o primeiro voo tripulado do Programa Apollo atingiu o solo lunar, muitos ainda duvidam de que o homem realmente tenha pisado na Lua. Essa teoria de conspiração afirma que todo o programa teria sido uma grande farsa com a finalidade de convencer o mundo de que os Estados Unidos teriam vencido a corrida espacial contra a União Soviética durante a Guerra Fria.

Existem várias vertentes dessa ideia. Algumas afirmam que o homem nunca pisou na Lua em momento algum de sua história, enquanto outras alegam que apenas as primeiras missões Apollo foram falsas. Segundo essas ideias, as diversas provas, como as filmagens e as fotografias feitas durante a estadia em solo lunar, teriam sido forjadas em estúdios, como uma boa produção hollywoodiana. Outras evidências, como as rochas coletadas pelos astronautas americanos (e que inclusive foram analisadas por cientistas de vários países, incluindo a Rússia), os espelhos deixados no solo lunar e que são utilizados até hoje para medir a distância entre a Terra e o seu satélite, e a presença, até nos dias atuais, de objetos deixados pelo homem na Lua são ignoradas ou pouco abordadas pelos negacionistas. O foco das acusações costuma ser as fotografias e filmagens.

Dentre as alegações mais comuns existe a que diz que as fotografias tiradas pelos astronautas durante a missão não mostram nenhuma estrela no céu, o que indicaria que tais imagens são falsas. Como a Lua não possui atmosfera, o brilho das estrelas não é absorvido, atingindo com mais clareza o solo. Dessa forma, de acordo com os negacionistas, as fotografias deveriam mostrar nitidamente as estrelas no céu. Mas onde estão essas estrelas nas imagens?

As estrelas não aparecem no céu devido a uma limitação dos filmes fotográficos (e dos sensores das câmeras digitais modernas também): o alcance dinâmico.

O alcance dinâmico de um filme fotográfico (ou de um sensor digital) nada mais é do que a capacidade de capturar detalhes em um intervalo entre tons claros e escuros. Em imagens de alto contraste, ou seja, onde na mesma cena existem tons muito claros e muito escuros, os filmes e sensores têm grande dificuldade em manter os detalhes em todos os tons. Por isso, diz-se que eles possuem um curto alcance dinâmico. Veja as imagens a seguir:

Foto-1-33 Foto-1-34Note que na primeira imagem os detalhes do pequeno palácio estão bem aparentes, enquanto na área sombreada é quase impossível determinar o que há nela. Já na segunda imagem, é possível ver nitidamente o que há na área sombreada. No entanto, os detalhes do castelo são perdidos. O fotógrafo deve escolher qual a área da imagem em que os detalhes devem ser mantidos. Para isso ele deve ajustar a câmera de acordo com a intensidade de luz da área desejada. A técnica conhecida como HDR (High Dinamic Range, ou Alto Alcance Dinâmico) tenta contornar essa limitação ao mesclar fotos feitas com diferentes ajustes. No entanto é uma técnica mais atual, presente principalmente na fotografia digital.

Simulação de HDR das imagens acima.

As fotografias das missões Apollo foram feitas sob luz solar forte. As câmeras foram ajustadas para essa intensidade de luz. A pesar das outras estrelas também emitirem uma luz muito intensa, elas estão localizadas a vários anos-luz de distância da Lua. Como a intensidade de luz diminui com o quadrado da distância, a fração de luz dessas estrelas que atinge a lua é mínima, e a que atinge o filme dentro da câmera é ainda menor quando comparada com a luz vinda do Sol. Essa enorme diferença entre a intensidade de luz do Sol e das outras estrelas é muito maior do que o alcance dinâmico de qualquer filme. Por isso, ao ajustar a câmera para a luz solar, o fotógrafo deixa de capturar a luz das estrelas.

Essa limitação existe mesmo nos dias atuais. A fotografia abaixo foi feita pela Agência de Exploração Espacial Japonesa, JAXA (Japan Aerospace Exploration Agency) em 2007.20071107_kaguya_02lNote como mesmo com uma câmera digital moderna as estrelas ainda não são visíveis.

As missões Apollo atingiram seus objetivos e com certeza estão entre os maiores acontecimentos da humanidade. Existem diversas evidências que comprovam tal feito, e as fotografias estão entre elas.

Referências

  • KAGUYA (SELENE): World’s First Image Taking of the Moon by HDTV (2007). Japan Aerospace Exploration Agency. Disponível em: http://global.jaxa.jp/press/2007/11/20071107_kaguya_e.html
  • Woods, W. David (2008). How Apollo Flew to the Moon. New York: Springer-Verlag. ISBN 978-0-387-71675-6.
  • Harrison, Guy P. (2012). 50 popular beliefs that people think are true. Foreword by Phil Plait. Amherst, NY: Prometheus Books. ISBN 978-1-616-14495-1.
Gabriel Negreira

Gabriel Negreira

Biólogo, mestre em biologia molecular e atualmente doutorando. Fotógrafo por hobbie e amante da ciência e de sua interdisciplinaridade.