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Os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) e a automedicação

Existe um grupo composto por diversos medicamentos, de várias classes farmacológicas diferentes, conhecido como MIP (em inglês, OTC ou Over The Counter). São medicamentos que costumam ficar do outro lado do balcão, requerendo solicitação ao farmacêutico para adquiri-los.

Conceito e Definições

Lista de medicamentos isentos de prescrição publicada no Diário Oficial da União

Os MIPs não requerem prescrição médica, mas devem ser observados com cautela, mesmo sendo considerados de baixo risco por tratarem sobretudo os sintomas de doenças comuns. Existem efeitos adversos quando da superdosagem, do uso contínuo desnecessário ou em casos de interação medicamentosa, havendo a constante necessidade de orientação profissional sobre os eventuais riscos.

Alguns dos mais comuns no mercado:

Antiácidos

Possuem uma ação que visa controlar a acidez estomacal. Seu mecanismo se dá por meio da reação entre uma ou mais bases e o ácido clorídrico do estômago, gerando água e sais como resultado.

São comuns formulações contendo bases fracas de alumínio, magnésio e bismuto, além de medicamentos contendo ácido acetilsalicílico (AAS), com o intuito de favorecer a redução de dores epigástricas causadas por refluxos gastroesofágicos e outras condições de aumento da atividade ácida no estômago.

Antifiséticos

Também conhecidos como antigases, são fármacos empregados no tratamento sintomático do acúmulo de gases no trato gastrintestinal, quase sempre resultantes do processo de digestão e decomposição dos alimentos ao longo do trato. Um dos mais comuns no mercado é a simeticona, que pode ser encontrada nas versões gotas, comprimidos ou cápsulas gelatinosas. A simeticona é uma forma de silicone, que elimina a tensão superficial das bolhas de gás no intestino.

A simeticona também é usada no preparo do trato gastrintestinal para exames como a colonoscopia ou a endoscopia.

Antiinflamatórios Não-Esteroidais (AINEs) e Analgésicos

São os medicamentos mais conhecidos e comercializados do mercado, devido ao seu amplo emprego nas mais variadas dores, especialmente para casos de dor de cabeça simples, enxaquecas comuns, inflamações de garganta, gripes e resfriados, cólica menstrual e lesões musculares.

Podem ser combinados com algum relaxante muscular (orfenadrina, carisoprodol), com cafeína (o que potencializa o efeito analgésico), com algum antiespasmódico (escopolamina), com algum vasoconstritor (isometepteno), dentre outras possibilidades. Alguns exemplos de AINEs: dipirona (sinônimo: metamizol), AAS, ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno, flurbiprofeno.

Observação: O efeito antiinflamatório não está presente em todos os analgésicos, como é o caso do paracetamol (sinônimo: acetaminofeno), que tem emprego mais funcional para dores gerais e febre (que não é considerado um AINE), exceto em dores de natureza inflamatória. Muitos autores e teóricos não consideram o paracetamol um AINE.

Descongestionantes, antialérgicos e anti-histamínicos

Em casos de alergias, gripes e resfriados, a congestão nasal é um sintoma comum, sendo esta a finalidade destes medicamentos, por terem efeito vasodilatador. Além deste efeito, os anti-histamínicos diminuem a ação fisiológica da histamina, uma substância que promove a dilatação de vasos e vias aéreas, de modo a permitir aumento do fluxo sanguíneo, assim levando as células de defesa do organismo para o local afetado pela lesão.

Em casos graves, a histamina pode desencadear a chamada anafilaxia (ou choque anafilático), processo que pode levar à morte.

Suplementos vitamínicos: polivitamínicos e multiminerais

É comum serem encontrados suplementos destinados a faixas etárias específicas, com especificidades ou necessidades por sexo, combinados a estimulantes (caso da erva Panax ginseng, tida como tônico) ou com formulações que visam suprir déficits específicos, como é o caso da vitamina D e do cálcio, sobretudo para o grupo dos idosos. Alguns minerais: zinco, ferro, cálcio, selênio, fósforo, magnésio, todos importantes para o desempenho de funções metabólicas.

Riscos e advertências

→ Antigases podem causar naturalmente algum desconforto com arrotos e flatulências. Em doses maiores podem provocar diarreia (efeito laxante), o que em casos intensos pode levar a desidratação.

→ Antiácidos também podem ser laxativos quando do aumento da dose. Antiácidos com alumínio podem provocar a depleção de fosfato (diminuição dos níveis de fósforo no organismo), levando a um quadro de hipofosfatemia por conta de problemas na sua absorção.

→ Antialérgicos e anti-histamínicos podem provocar sonolência, o que pode ser arriscado para motoristas e trabalhadores que operam máquinas, como escavadeiras e tratores. De modo geral, também há o risco de hipersonia (aumento das horas de sono diárias) e hipotensão (queda brusca da pressão arterial).

→ Os salicilatos, sobretudo o ácido acetilsalicílico (AAS), têm efeito antiagregante plaquetário, o que pode levar a sangramentos ao longo do corpo. Seu uso é totalmente contraindicado em casos de suspeita de dengue, devido ao risco de haver evolução para um quadro hemorrágico.

→ A dipirona pode estar relacionada a casos raros de agranulocitose, isto é, redução de granulócitos da série branca (eosinófilos, neutrófilos e basófilos), baixando as defesas do indivíduo. Sua comercialização é proibida em vários países por conta deste risco.

→ O paracetamol apresenta risco de lesão hepática, pois ao ser metabolizado, libera no organismo um metabólito tóxico para o fígado (N-acetil-p-benzo-quinona imina, o NAPQI). Sua dose máxima diária é de 4 gramas (considere comprimidos contendo 500 ou 750 miligramas, até 8 ou 5, respectivamente).

→ O excesso de vitaminas, para além da suplementação necessária para os valores diários da dieta, pode ser nocivo para os rins e para o fígado, pois sobrecarrega os órgãos ao forçá-los a metabolizar uma quantidade maior do que a recomendada. Os minerais podem provocar a formação de cálculos renais, pois se depositam e fazem acúmulo.

→ Os corantes de muitos medicamentos podem desencadear reações alérgicas de pele ou respiratórias. Um caso muito comum é o amarelo de tartrazina, que inclusive pode ser perigoso para asmáticos, por levar a reações anafiláticas.

Referências bibliográficas consultadas

• Bulário, as bulas de vários medicamentos das classes acima citadas.

• Relação Municipal de Medicamentos Essenciais da Prefeitura Municipal de Vitória-ES. 3. ed. 2009.

Pedro H. Costa

Pedro H. Costa

Bacharel em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuo desde 2012 no Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas, pela mesma instituição. Interessado em saúde, educação, ciência e filosofia. Faça uma pergunta: ask.fm/phcs91