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O novo conceito geral para o tratamento do câncer

Uma equipe de pesquisadores de cinco universidades suecas, lideradas pelo Instituto Karolinska e o laboratório de ciência para a vida (ScilifeLab) identificaram uma nova forma de tratar câncer. O conceito é apresentado na Nature e é baseado na inibição de uma enzima especifica chamada MTH1, que em células cancerosas, ao contrário de células saudáveis, é necessária para a sobrevivência. Sem esta enzima, nucleotídeos oxidados são incorporados no DNA, resultando em quebra dubla da fita de DNA em células de câncer.

Em décadas recentes, o desenvolvimento de novos agentes anti câncer tem mirado defeitos genéticos específicos em células de câncer. Estes agentes geralmente são eficazes no início, mas rapidamente sofrem com o desenvolvimento de resistência. No estudo, os pesquisadores apresentam uma atividade enzimática geral, comum a todos os cânceres testados e que parece ser independente das modificações genéticas encontradas em cânceres específicos. O grupo de pesquisa mostra que todos os tumores investigados necessitam da MHT1 para sobreviver. Desta forma, células de câncer se diferem de células normais, que não necessitam da enzima.

“O conceito se dá no fato que células de câncer têm um metabolismo alterado, resultando na oxidação dos nucleotídeos”, diz Helleday. MHT1 saneia os nucleotídeos oxidados, prevenindo o estresse oxidativo de ser incorporado no DNA e se tornando estrago no DNA. Isto permite a replicação em células de câncer de forma que elas conseguem dividir, e multiplicar-se. Com um inibidor de MHT1, a enzima é bloqueada e os nucleotídeos “estragados” são incorporados no DNA, tornando o DNA defeituoso e matando as células. Células normais não necessitam MTH1 uma vez que seu metabolismo é regulado, o que previne danos aos nucleotídeos. Este estudo abre portas para uma maneira totalmente nova de tratar câncer.

Um Inibidor Potente

Para levar o conceito de tratamento na direção de aplicações clínicas, os cientistas adotaram uma estratégia de colaboração multidisciplinar com pesquisadores de cinco universidades suecas. Eles produziram um potente inibidor de MHT1 que seletivamente mata células em tumores que foram removidos cirurgicamente de pacientes com câncer de pele. Dr. Roger Olofsson Bagge é cirurgião no hospital universitário Sahlgrenska, que é afiliado com a Academia Sahlgrenska, na Universidade de Gotemburgo: “Quando vimos que o tumor de um paciente com melanoma, que havia feito resistência a todos os tratamentos disponíveis no momento, respondeu muito bem ao tratamento, ficamos extremamente felizes. É raro poder ser testemunha de algo tão extraordinário,” ele diz.

Entretanto, há ainda muito a ser feito, até que possamos passar a testes clínicos, o que provavelmente levará um ou dois anos segundo Thomas Helleday. Em outro artigo publicado na mesma edição da Nature, partes do grupo de pesquisa sueco, juntamente com colaboradores na Áustria e Reino Unido, os atuais resultados mostram que até substâncias usadas para matar células de câncer atualmente agem na inibição da MHT1, algo que até o momento não era de conhecimento dos cientistas.

“Para acelerar o desenvolvimento deste tratamento e proceder para testes clínicos com pacientes o mais rápido possível, estamos trabalhando com um modelo de inovação aberta. Mesmo antes de publicar, enviamos inibidores de MHT1 para vários grupos de pesquisa no mundo todo”, diz Helleday, que tem professorado Söderberg no instituto Karolinska, que lidera o estudo.

O Conceito Funciona

“Agentes anti câncer atuais atuam na inibição da MHT1, isto mostra que o conceito funciona. Agora, precisamos entender o mecanismo de ação, poderemos desenvolver inibidores muito seletivos”, diz Thomas Helleday.

A equipe de pesquisa responsável pelos resultados está concentrada no SciLifeLab (laboratório de ciência para a vida), que em nome do governo sueco instaurou uma plataforma nacional de pesquisa para desenvolvimento de farmacos. As universidades que participaram na parceria além do instituto Karolinska e Academia Sahlgrenska/Universidade de Gotemburgo são as Universidade de Uppsala e Universidade de Estocolmo.


Artigo publicado por Krister Svahn. New General Concept for the Treatment of Cancer. University of Gothenburg. Apr 02, 2014.


Referências Bibliográficas

Helge Gad, et al. MTH1 Inhibition Eradicates Cancer by Preventing Sanitation of the dNTP Pool. Nature. April 02, 2014.

Kilian V. M. Huber, et al. Stereospecific Targeting of MTH1 by (S)-Crizotinib as an Anticancer Strategy. Nature. April 02, 2014.

MTH1 The Story. The Helleday Laboratory. Mar 25, 2014.

Caroline Miranda

Caroline Miranda

Sou formada em biologia molecular pela Universidade de Skövde, Suécia, mestrada em biologia molecular pela mesma universidade, e mestrada em genética, pela Universidade de Gotemburgo. Atualmente sou doutoranda em medicina pela universidade de Gotemburgo. Sou pesquisadora de câncer e trabalho atualmente com pesquisa epigenética em RNAs não codificantes. Sou fascinada por astronomia e passo meu tempo livre olhando as estrelas do meu telescópio amador. Sou cética, acredito em fatos e afirmações baseadas em evidências. "Extraordinary claims require extraordinary evidence" Carl Sagan