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Mas, afinal, as máquinas vão substituir o homem?

Desde o surgimento dos primeiros computadores analógicos no final do século XIX, e, principalmente, a partir de meados da década de 50 com o advento das primeiras tecnologias digitais e popularização do uso de mainframes pelas grandes indústrias, os homens se questionam:

Pode a máquina substituir o homem?

Na década de 50 o mundo vivia uma segunda revolução industrial. Os processos de fabricação nas indústrias estavam automatizados via eletricidade. Os primeiros “robôs” montadores já estavam nas fábricas de automóveis e milhares de pessoas que outrora eram responsáveis por colocar peças em seus devidos lugares se viram desempregadas. A mídia desde sempre diz que quanto mais a tecnologia avança mais ela ocupa o lugar do homem, mas isso se analisado corretamente não é verdade. Antes de mais nada, para conseguirmos responder a essa pergunta devemos fazer uma outra pergunta: o que é tecnologia?

A maioria das pessoas responderiam: tecnologia é a ciência aplicada. Infelizmente, a melhor definição de tecnologia não é essa. Devemos definir tecnologia como uma extensão das capacidades e sentidos humanos. Nenhuma tecnologia surge sem que auxilie o homem de alguma maneira. O rádio foi uma extensão da nossa comunicação, o telescópio e o microscópio da nossa visão e o computador foi a extensão da nossa capacidade de computar, calcular.

A superioridade das habilidades de uma tecnologia eficiente são inquestionáveis se comparadas as capacidades humanas. O grande “x” da questão neste ponto consiste no fato de que nem tudo pode ser substituído pela tecnologia, e não sou eu quem digo isso, é a própria matemática.

Existem diversos fatores no universo humano que não podem ser matematizados, isto é, não existe maneira de definir um modelo para coisas tais como as relações sociais, os sentimentos e até mesmo o próprio pensamento.

A inteligência computacional (ou inteligência artificial) consiste em modelos matemáticos aplicados à computação a fim de tentar reproduzir partes específicas do sistema cognitivo humano, dentre as quais atualmente destacam-se a lógica fuzzy, as redes neurais e os algoritmos genéticos.

Avanços substanciais vem sendo desenvolvidos nas últimas décadas nesse ramo e realmente a primeira visão que temos disso tudo é que sim, as máquinas vão substituir os homens. Apesar disso tudo devemos nos remeter a alguns conceitos primordiais de computação, principalmente a máquina de Turing. Superficialmente, podemos dizer que Turing já definiu todos os limites para a capacidade dos computadores atuais e futuros a menos que seja desenvolvido um método de computação novo que não siga os padrões da computação atual. Isso pode parecer abstrato e surreal mas na verdade é simples. Pensemos num automóvel. Os automóveis existem desde o século XIX. Agora, suponhamos que acreditemos que os carros um dia vão voar. Imediatamente já podemos negar essa crença já que o carro, em sua concepção, foi projetado para andar sobre o chão, movendo suas rodas e, através do atrito, deslocar-se. A partir do momento que se adicionam hélices, turbinas ou asas, não estamos mais tratando do carro em sua concepção primária. Essa analogia pode ser comparada a questão dos limites estabelecidos para os computadores.

Uma nova tecnologia que está em foco e que promete muito é a computação quântica, mas devo adiantar que sua concepção é a mesma dos computadores de Turing só que, ao invés de utilizar os “0” e “1” do chaveamento de transistores, utiliza-se o estado de spin dos elétrons ganhando, na prática, velocidade de processamento e não novos recursos computacionais.

Após toda essa contextualização voltemos à pergunta inicial e, nesse ínterim, podemos afirmar que a cada nova tecnologia que surge novos setores são desenvolvidos e quem ocupa estes novos setores são os próprios homens. Uma máquina realiza perfeitamente uma função repetitiva mas foi necessário um homem programá-la para executar aquela função. Não espere que uma máquina realize algo para a qual ela não foi programada. Quando as máquinas substituíram os homens na década de 50, foi necessário surgir os programadores, os técnicos de hardware e software, os cientistas da computação e assim sucessivamente.

Então, podemos concluir que enquanto houverem situações nas quais exige-se repetição, movimentos mecânicos, cálculos complexos ou qualquer outra coisa que possa ser modelada matematicamente, a máquina sempre será melhor que o homem. Em contra partida, além das coisas que a máquina não pode fazer, como reproduzir os sentimentos e as relações sociais, novos ramos de conhecimento e desenvolvimento surgem conforme a tecnologia avança e a única forma de se obter novos avanços é através do ser humano.

Portanto, se você estava com medo de que os robôs dominassem o mundo, pode ficar tranquilo. Pelo menos, por enquanto…

José Eduardo H. da Silva

José Eduardo H. da Silva

Graduado em engenharia elétrica pela USS, graduando em matemática pela UFF e mestrando em Ciência da Computação com ênfase em Inteligência Computacional pela UFJF. Amante de todas as ciências exatas desde criança tive a oportunidade de aprender a programar computadores com 11 anos de idade. Durante a graduação em engenharia elétrica fui bolsista de iniciação científica pelo CNPq e em seguida atuei por dois anos como estagiário no Observatório Nacional, departamento de Geofísica/Geomagnetismo, onde nessas duas situações fui introduzido de fato ao mundo científico o qual hoje amo. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3305201288921237