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Introdução à Ciência Forense

Em 1984, Jennifer Thompson sofreu uma terrível experiência, quando um homem invadiu sua casa, colocou uma faca em seu pescoço ameaçando sua vida e a estuprou violentamente. Diante da situação em que não iria conseguir ajuda, Jennifer tomou a decisão de memorizar o máximo de características que pudesse do suspeito, para ser uma boa testemunha ocular durante a investigação. O policial que entrevistou a vítima foi Mike Golding, que esperava que a Jennifer pudesse estar triste ou em choque com a situação, assim como toda vítima de estupro. Porém, o oficial afirmou que ela demonstrava um foco e uma determinação muito grande para encontrar o suspeito, o que nunca havia presenciado em nenhum outro caso de estupro. Eles puderam trabalhar em cada detalhe do rosto do suspeito como os lábios, as bochechas, o nariz, suas orelhas, tudo que ela pudesse se lembrar e montar o retrato falado.

Diversos suspeitos foram levados à delegacia através de denúncias, aos poucos eles foram sendo eliminados pela identificação visual de Jennifer até que ela se deparou com o rapaz chamado Ronald Cotton, em que ela começou a se tremer, suar frio e ter taquicardia. Pelo reconhecimento visual da vítima e Ronald foi sentenciado com 50 anos de cadeia. Contudo, o mesmo nunca admitiu ter cometido o crime e após algum tempo preso ele se encontrou com Bobby Poole nesta mesma prisão, acusado por uma série de estupros. Incrivelmente os dois tinham a aparência muito semelhante e Bobby se gabava para outros companheiros de prisão por ter estuprado Jennifer Thompson. Cotton só foi inocentado com a análise de DNA, porém isso custou mais de 10 anos de liberdade.

Foto mostrando a semelhança entre Bobby Poole e Ronald Cotton.
Foto mostrando a semelhança entre Bobby Poole e Ronald Cotton.

Importância da Ciência forense

Este caso mostra que identificação visual pode ser extremamente falha e não deve ser considerado como uma prova consistente, mas, sim, como um auxílio na investigação. Inclusive, erros de identificação visual pela vítima é uma das maiores causas de erro de condenação da justiça.

Diante de uma situação de crime ou até mesmo um acidente, a testemunha se coloca em uma situação extremamente difícil de lembrar de cada detalhe do ambiente, do ocorrido ou até mesmo do suspeito. Se você tentou jogar aqueles jogos de memorização em que você tem poucos segundos para decorar os objetos em uma certa imagem, agora imagine você ter que usar sua memória para algo totalmente inesperado, que muitas vezes deixa a testemunha (ou a vítima) abalada psicologicamente, da situação de estresse em que é colocada (como vítima ou testemunha) e outros fatores como emocionais que podem variam de pessoa para pessoa, chegando até a afetar a sanidade.

Assim podemos entender a grande necessidade da análise forense, em utilizar a ciência para conduzir investigações ou até mesmo condenar ou não um suspeito através das evidências. Isso cria uma perspectiva neutra (ou quase) do processo investigativo e do julgamento. Isso é considerado uma das características principais de um bom perito criminal (CSI – Crime Scene Investigator), além de defender a validez de suas evidências, no momento em que os advogados de oposição irão tentar desmerecer a ciência diante do júri. Por esse motivo e a habilidade de explicar um processo complexo em uma forma simples para o entendimento de leigos o Perito é chamado de Cientista público.

Está Ciência aplicada possui um valor moral muito importante através do sistema de leis que existe em cada país, impondo a punição para os acusados e exaltando a nós o valor da vida humana diante da ordem social para o bem comum. Sem isso, viveríamos em um caos, dito pelo Filosofo Thomas Hobbes “A guerra de todos contra todos, tonando a vida desagradável, bruta e curta”.

Como é ser um Cientista Forense?

Um cientista em seu laboratório irá trabalhar em diversos experimentos em um ambiente controlado das variáveis necessárias para testar a sua hipótese. O que não acontece em uma cena de crime, onde o perito precisa estar preparado para o caos de evidências não claras e contaminadas. Quando irá se deparar com meia impressão digital em um copo ou um ambiente de explosão com os rastros queimados e de evidências praticamente destruídas. Devido a essa problemática, a dedução se torna uma ferramenta muito útil, sendo aplicada nas leis da natureza como a lei de Flick, Lei de Fourier, Lei de Newton, Lei de Ohm, Lei de Mendel e entre outros. O perito basicamente terá que trabalhar em uma situação de desordem, caos, contaminação, explicações especificas, aproximação de leis da natureza e incertezas.

Por causa da complexidade das situações, variáveis e necessidade de uma grande diversidade de conhecimento, a Ciência forense é dividida em diversas áreas de domínio, onde os profissionais tentam ao máximo compreender este campo em particular para obter evidências de uma cena. São elas, áreas como Patologia, Enfermagem, Toxicologia, Investigação de Mortes Traumáticas, Odontologia, Antropologia, Tafonomia, Entomologia, Padrão de Mancha de Sangue (Bloodstain), Genética, Impressão digital, Informática, Engenharia, Reconstrução de acidentes (veiculares e Aéreos), Psicologia, Psiquiatria, Perfil Criminal e entre outros.

Caso tenha o estômago forte, fique atento nas próximas postagens do Universo Racionalista sobre Ciência Forense.

Referência

Daniel Moura

Daniel Moura

Bioinformata no VarStation/ Hospital Israelita Albert Einstein. Mestre pelo Programa International Master of Science in Agro- and Environmental Nematology na Universidade de Ghent, Bélgica. Graduado em Bacharelado de Ciências Biológicas / Ciências Ambientais da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil e pela Universidade Eötvös Loránd, Húngria. Atua na área de Zoologia, Ecologia, Fisiologia Comparada, Biologia Forense e Biologia computacional. Contato: dmouraslv@gmail.com