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Imunização: vacinas e as aglomerações

Uma coisa que tenho ouvido na rua e lendo nas redes sociais envolve a seguinte pergunta, que diz respeito à distribuição da vacina contra o vírus H1N1: “Por que os presos receberam vacina primeiro?”. Ou algo parecido, mas sempre com um tom pejorativo, no sentido de diminuir a importância do detento como alguém a não “merecer” vacinação.

O senso comum dificilmente entenderia por si mesmo o motivo de se realizar tal imunização, mas a resposta é muito simples. A Epidemiologia é uma ciência que nos provê algumas explicações práticas e fáceis de assimilar sobre o assunto. É sobre o que explanarei nas próximas linhas, expondo fatores que justificam essa medida.

1) Detentos estão aglomerados: Um dos principais fatores de risco para as grandes epidemias e ocorrências populacionais de infecções é a aglomeração. O regime de privação de liberdade é justamente esse fator, o que contribui para uma atenção que os envolva primeiro. Os espaços internos das penitenciárias favorecem o contato físico muito próximo – ver terceiro tópico.

2) Detentos entram em contato com muitas pessoas: Agentes penitenciários ou socioeducativos, profissionais do Judiciário e da Segurança Pública em geral, funcionários da saúde que prestam cuidados em presídios, bem como visitantes, dentre muitas outras categorias de pessoas, podem se tornar veículos de transmissão a partir do contato respiratório (podemos pensar na grande prevalência de tuberculose nas prisões) e tátil (atenção para a ressalva da lavagem de mãos) com os detentos. O presídio acaba funcionando como um grande “reservatório” de microrganismos diversos, devendo ser dada a devida atenção a essa ocorrência. Vacinar esses indivíduos é uma medida preventiva funcional, se levarmos em conta que as pessoas retornarão a suas residências e o farão por meio do transporte coletivo, principalmente – e mesmo que em seus veículos particulares, estarão novamente em contato com a população externa.

3) As condições sanitárias e estruturais das prisões são precárias: Diversas notícias e relatórios apontam as deficiências que existem nas instalações prisionais (fatores assistenciais: má assistência de saúde e psicossocial; fatores ambientais: pouca circulação de ar, prejuízos na água e no esgotamento, até mesmo a pouca luminosidade natural), e isso não é novidade para ninguém. Sabendo disso, devemos considerar a má higiene que a estrutura promove como outro agravante desse cenário. A saúde dos indivíduos pode eventualmente estar comprometida, dificultando qualquer medida eficiente de contenção ou prevenção de agravos.

Com estes motivos, dentre outros que podemos estender com alguma reflexão, se entende que os detentos e demais indivíduos que participam da rotina de uma instituição prisional constituem um considerável grupo de risco para infecções, sobretudo.

Se ouvir alguma fala parecida, que exiba desconhecimento sobre o assunto, ajude a pessoa a obter esclarecimento. A Epidemiologia é uma das mais importantes áreas de conhecimento, se avaliarmos a necessidade que ela supre no cotidiano da vida em sociedade. As doenças de caráter populacional possuem localização no espaço e no tempo, portanto, nos cabe entender como essa dinâmica acontece e afeta todos os indivíduos.

Notícias que ilustram o exposto: (1) (2)
Material de leitura complementar: (1) (2)

Pedro H. Costa

Pedro H. Costa

Bacharel em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuo desde 2012 no Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas, pela mesma instituição. Interessado em saúde, educação, ciência e filosofia. Faça uma pergunta: ask.fm/phcs91