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Exorcismo: fato ou ficção?

O exorcismo é a prática de uma pseudoterapia com fins não psicológicos, mas sim sobrenaturais, porém, os seus efeitos são sim psicológicos e não sobrenaturais. Basicamente, as pessoas que acreditam estar possuídas possuem problemas mentais, por exemplo, esquizofrenia. Outras são induzidas psicologicamente por outras pessoas a acreditarem que de fato estão possuídas e, portanto, só com uma sessão de exorcismo poderão ser “curadas”. Resumidamente o que acontece é a chamada, em psicologia, autossugestão e também o famoso efeito placebo.

Um livro sobre o tema, publicado em 2001, de Michael Cuneo, American Exorcism: Expelling Demons in the Land of Plenty (em português, Exorcismo Americano: Expulsando Demônios na Terra da Abundância), revela não ter encontrado nenhuma razão para pensar que qualquer coisa sobrenatural ocorre durante um exorcismo. Depois de assistir a cinquenta exorcismos, Cuneo, enfatiza sobre o fato de que ele não viu absolutamente nada de sobrenatural – e certamente nada remotamente parecido com os eventos descritos no filme de 1974, The Exorcist (em português, O Exorcista). Nenhuma cabeça girando (se contorcendo), sem levitação, sem poltergeists, sem espíritos, embora muitos dos envolvidos xingam, cuspam ou vomitam. A ciência explica esta causa como um problema de saúde mental.

Embora se fale muito sobre o Caso de Cornici, em que ela, Maricica Cornici, uma freira de 23 anos de idade, doente mental, que vivia no mosteiro romeno da Igreja Ortodoxa da Tanacu, em Vaslui County, Romênia, que dizia ouvir o diabo dizendo que ela era pecadora, foi morta durante uma sessão de exorcismo pelo padre Daniel Corogeanu com a ajuda de outras quatro freiras. O caso foi amplamente divulgado nos meios de comunicação romenos e, após um longo julgamento, os cinco foram condenados por homicídio – o laudo revelou que a causa da morte foi por asfixia e desidratação. Mas ela não foi a primeira vítima inocente de um exorcismo. Em 22 de agosto de 2003, um menino de oito anos de idade, autista, em Milwaukee, foi amarrado e pressionado por membros da igreja durante um culto de oração realizado para exorcizar os maus “espíritos” que, segundo fiéis, eram “culpados” por sua condição. Mas através de uma autópsia, descobriu-se um extenso hematoma na parte de trás do pescoço da criança, concluindo-se que o mesmo havia sido morto por asfixia.

Nos últimos dez anos, houve pelo menos quatro outras mortes relacionadas com exorcismo nos Estados Unidos. Há também vários outros casos trágicos como o do Texas, da mãe Andrea Yates, que afogou seus três filhos num esforço para exorcizar o demônio de si mesma, em 2001. Mais recentemente, um casal Sul Africano foi preso por manter sua filha de quinze meses de idade, enjaulada, em jejum, e amarrada, porque eles acreditavam que ela estava possuída.

Os exorcismos no cinema (ficção) podem ser divertidos, mas na vida real podem ser fatais, além de serem vistos por especialistas (céticos e cientistas) como charlatanismo. A trágica ironia é que, em muitos casos, o mal não é cometido pelo diabo, mas sim por aqueles que acreditam nele.


Artigo adaptado do original, publicado por Benjamin Radford, na Live Science, com o título, Voice of Reason: Exorcisms, Fictional and Fatal.

Benjamin Radford é um escritor investigativo e crítico de cinema. Seu artigo sobre a verdadeira história por trás de The Exorcist (em português, O Exorcista) pode ser encontrado aqui.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.