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Estudo identifica células cerebrais envolvidas na resposta Pavloviana

Publicado na EurekAlert!

Em seu famoso experimento, o cientista russo Ivan Pavlov tocou um sino toda vez que alimentava seus cachorros. Rapidamente, os cães começaram a salivar em antecipação sempre que ouviam o sino, mesmo antes da comida aparecer.

Agora, um estudo da UCLA rastreou a resposta Pavloviana em um pequeno agrupamento de células cerebrais – os mesmos neurônios que estão envolvidos nas doenças de Huntington, Parkinson e na Síndrome de Tourette. Publicado em 22 de Março no periódico Neuron, a pesquisa pode um dia ajudar neurocientistas a encontrar novas abordagens para o diagnóstico e tratamento dessas desordens.

“As espécies sobreviveram porque aprenderam a ligar pistas sensoriais como sons, cheiros e vistas específicos à recompensas como comida e água”, disse Sotiris Masmanidis, autor sênior e professor assistente de neurobiologia na David Geffen School of Medicine da UCLA. “Nós queríamos descobrir o circuito cerebral que codifica o aprendizado e comportamento baseado em recompensa”.

A equipe da UCLA se focou na atividade celular no corpo estriado, uma parte do cérebro associada à recompensa, movimentação e tomada de decisões.

Em uma visão moderna do experimento de Pavlov, Masmanidis e seus colegas repetidamente expuseram ratos ao cheiro não-familiar de banana ou limão, seguido por uma gota de leite condensado. Eventualmente, os ratos aprenderam que as fragrâncias prediziam a chegada da doce recompensa e começavam a fervorosamente lamber o ar em antecipação.

“Os ratos aprenderam a associar o novo cheiro com comida, assim como os cães de Pavlov”, disse Masmanidis, que também é um membro dos California Nanosystems Institute e Brain Research Institute da UCLA. “Nosso próximo passo era descobrir o que acontece com a resposta Pavloviana quando silenciamos diferentes grupos de células no corpo estriado”.

Baseado em pistas de estudos anteriores, a equipe conseguiu se restringir a um pequeno grupo de células que suportam os principais neurônios do corpo estriado. Apesar dessas células de suporte consistituírem menos de 2% das células na região, os cientistas se surpreenderam ao descobrirem que eles possuem um papel desproporcionalmente importante.

“Quando desligamos as células de suporte, os ratos lambiam o ar em antecipação ao leite com apenas metade da frequência anterior”, disse Masmanidis. “Nós suspeitamos que as células de suporte realcem os circuitos cerebrais que codificam a resposta Pavloviana”.

A influência das células de suporte pareceu ser mais forte quando os ratos estavam começando a aprender o pareamento dos cheiros desconhecidos com a recompensa. A mudança era menos dramática em ratos que já haviam feito a conexão.

“Essas células eram mais essenciais para ratos inexperientes que ainda não haviam aprendido a reposta Pavloviana”, disse Masmanidis.

Os achados sugerem que um mal funcionamento das células de suporte pode levar à desordens neurológicas, e que restaurar a função destas células pode eventualmente ajudar as pessoas com essas doenças.

Mais de um século depois do clássico estudo de Pavlov, ainda há muito a se aprender sobre a resposta Pavloviana. “Nossos achados abrem empolgantes oportunidades para estudos posteriores observando o papel dos diferentes tipos de neurônios na saúde e em doenças”, disse o primeiro autor Kwang Lee, pesquisador pós-doutor em Neurobiologia da UCLA.

Lucas Rosa

Lucas Rosa

Lucas Rodolfo de Oliveira Rosa é graduado em Ciências Biomédicas pela UNESP e Mestrando em Biologia Funcional e Molecular pela UNICAMP. Entusiasta pela ciência desde criança, Lucas é colaborador do Universo Racionalista e Editor-Chefe em Mural Científico (www.muralcientifico.com), sua plataforma aberta de divulgação científica nacional e internacional. Lattes http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4854743Z0