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Enxergando o câncer: o papel do diagnóstico por imagem na evolução da oncologia

Historicamente, a oncologia, especialidade médica dedicada ao estudo e tratamento do câncer, teve como sua primeira disciplina a cirurgia. Datando de milhares de anos atrás, antes mesmo da descoberta da anestesia e da assepsia 150 anos atrás, as cirurgias oncológicas possuíam baixos índices de cura acompanhados por altas taxas de morbidade e mortalidade. Com o passar dos anos e com o desenvolvimento científico e tecnológico, a especialidade passou a se desenvolver, valendo-se, entre outras coisas, da evolução das técnicas de imagem.

Segundo o médico nuclear e diretor do serviço especializado MND Campinas, Celso Dario Ramos, as informações propiciadas a partir do desenvolvimento da radiologia, por exemplo, foram decisivas para o maior entendimento da configuração dos tumores e de sua operabilidade. A sofisticação e sensibilidade crescente das imagens passaram a guiar cirurgiões e oncologistas, ajudando a aperfeiçoar as margens cirúrgicas, mostrando a extensão dos tumores e até aonde ele deve ser removido.

“Mais do que isso, as técnicas de imagem cada vez melhores diminuíram drasticamente a realização de cirurgias desnecessárias. Se tomarmos como exemplo o tratamento para câncer de esôfago e compararmos as imagens tradicionais com aquelas obtidas pelo PET/CT vemos que a técnica mais recente chega a mudar a estratégia de intervenção em 40% dos casos, causando a queda do número de cirurgias desnecessárias para a remoção do tumor. Isso porque com ele é possível detectar focos de metástases em linfonodos, o que muda o tratamento a ser seguido”, explica.

O PET, sigla em inglês para a Tomografia por Emissão de Pósitrons, é um dos principais avanços da medicina nuclear, especialidade que usa quantidades mínimas de substâncias radioativas (radiofármacos) como ferramenta para obter imagens e oferecer tratamentos precisos para diversas doenças. Incorporado à prática médica há mais de duas décadas, o PET foi melhorado com a incorporação das técnicas de tomografia computadorizada. Dessa forma, o PET/CT une os avanços das duas tecnologias para permitir ao médico obter maior resolução anatômica dos órgãos e tecidos humanos em pleno funcionamento.

O diretor da MND ainda conta que o PET/CT está entre o que há de mais avançado para o diagnóstico preciso, sendo utilizado também em especialidades como neurologia, cardiologia e endocrinologia, entre outras. Por fundir a imagem anatômica com a funcional, o exame define o local exato onde o tumor está.

“Na oncologia, o PET propicia ainda um estadiamento mais preciso do câncer, possibilitando a escolha do melhor tratamento, seja quimioterapia, radioterapia, cirurgia ou paliativo, diminuindo a morbidade da doença. Em outras palavras, à luz do conhecimento atual, não é mais possível praticar oncologia com elevada qualidade sem dispor dessa tecnologia”, ressalta o especialista.

Acesso da população

Atualmente, na saúde suplementar (planos de saúde), há a indicação para o exame PET, prevista em portaria, para oito casos: detecção de nódulo pulmonar solitário, câncer de mama metastático, câncer de cabeça e pescoço, melanoma, câncer de esôfago, tumor pulmonar para células não pequenas, linfoma e câncer colorretal.

“Muitas indicações importantes estão de fora. A lista não foi estendida para câncer de tireoide, colo do útero, testículo e ovário, entre outros, uma prática que já é comum em diversos países em todo o mundo. O Uruguai, nosso vizinho de América Latina, é um exemplo que contempla os também outros tipos de câncer na saúde suplementar”, comenta.

Na saúde pública, porém, a realidade é outra. Apenas três indicações são ressarcidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS): câncer de pulmão de células não pequenas, câncer colorretal com metástase exclusivamente hepática com potencial ressecável e linfomas de Hodgkin e não Hodgkin.

“Seria necessário que essa lista de indicações fosse ampliada. Até o presente momento, não houve a decisão final do Ministério da Saúde (MS) de oferecer PET/CT aos pacientes mais carentes, como ocorre em diversos países, inclusive da América Latina”, finaliza o diretor da MND Campinas.

Matheus Steinmeier

Matheus Steinmeier

Jornalista e pós-graduando em Divulgação Científica pela Unicamp