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Em entrevista para Nature, nova diretora do CERN fala sobre o LHC e suas esperanças para a física de partículas

Entrevista original na Nature

Fabiola Gianotti, Nova Diretora Geral do CERN
Fabiola Gianotti, Nova Diretora Geral do CERN

Fabiola Gianotti, física italiana que anunciou a descoberta do Bóson de Higgs em 2012, se tornou diretora do CERN no dia 1 de Janeiro, o laboratório próximo de Geneva, na Suíça, onde a partícula foi encontrada.

Gianotti deu uma entrevista para nature sobre a física feita no Grande Colisor de Hadrons de Hádrons já melhorado, o planejado acelerador Chinês e as ambições globais do CERN – além de como lidar com egos.

O quão excitados deveríamos estar sobre os últimos resultados do LHC, o qual dá pistas de um sinal que poderia ser devido a um novo fenômeno físico?

No momento, experimentos estão mostrando flutuações e sinais, os quais, se forem sinais de uma nova física, vão consolidar uma grande quantidade de dados que o LHC vai produzir no próximo ano. Por outro lado, se forem apenas flutuações, vão desaparecer. Nós temos que ser pacientes. Além de buscarmos por uma nova física, nós vamos estudar o Bóson de Higgs com precisão muito alta.

Os sinais que já vimos vão direcionar as pesquisas dos físicos?

Eu não acho que a direção da exploração está sendo guiada por sinais que pessoas veem aqui ou lá. A atitude correta é estar totalmente aberto e não se deixar levar por conceitos prévios, porque não sabemos onde a nova física está, ou como vai parecer.

Seguindo o aumento de energia do LHC, a coleção de dados em 2015 foi mais lenta do que o esperado. Como você caracterizaria isso até então?

A “corrida 2” (run 2) foi extremamente bem sucedida. Nos gravamos em torno de 4 fetombarns inversos de dados (em torno de 400 trilhões de colisões próton – próton). A meta inicial estava entre 8 e 10 femtobarns, então é menos. Entretanto, um grande números de desafios foram encarados e resolvidos. Então para mim, isso é mais importante que o acumulo de colisões. Nós poderíamos ter acumulado mais, mas sem encarar os desafios que vão nos permitir fazer grandes saltos em termos de intensidade nos feixes do próximo ano.

Em 2015, um artigo do LHC teve mais de 5000 autores. Deve haver algumas pessoas em tais experimentos que querem mais crédito pelo seus esforços. Como que você lida com o embate de egos?

Eu penso que as colaborações aceitam muito bem essa ideia de todos assinarem o artigo, e eu mesma dou bastante suporte pra isso. A razão é simples: você pode ser o cara que tem uma boa ideia para fazer uma análise legal, e ter resultados muito bons. Mas você não teria sido capaz de fazer a análise se várias outras pessoas não tivessem construído os detectores que lhe deram seus dados. Nenhum desses experimentos é um “show solo”, eles são trabalhos de milhares de pessoas que ajudaram nisso e merecem assinar o artigo igualmente.

Eu espero que as universidades, comitês e conselhos que contratam as pessoas entendam que só porque são vários autores, isso não significa que o individuo não teve uma contribuição importante.

CERN está atualmente no centro da física de partículas internacional, mas a China planeja um futuro colisor que poderia estar concluído em 2035. Você acha que a China poderia se tornar o centro de física de partículas por 2040?

No momento existem,ao redor do mundo, vários designes conceituais para grandes aceleradores no futuro. Claro que estudos conceituais são importantes, mas existe um grande passo entre estudos e realidade futura. Eu acho que é uma ideia muito boa que todas as regiões do mundo mostrem um interesse e compromisso em pensar sobre o futuro da física de partículas. É um bom sinal de uma disciplina saudável.

Existe chance da China se tornar membro do CERN?

Antes de se tornar membro completo, você precisa ser membro associado, e associação dessa forma pode ser concebida (para China). Veremos nos anos seguintes se isso pode se tornar realidade. É uma opção interessante a ser explorada.

Você planeja encorajar mais países a se tornarem membros do CERN?

Claro. Muito tem sido feito desde 2010 para aumentar a associação ao CERN, em termos de membros associados em particular, mas também para associação completa: nós temos Israel, por exemplo, e logo teremos Romania. Eu vou continuar nessa direção.

Algumas pessoa acham que governos futuros vão estar indispostos a investir em instalações maiores e mais caras. Você pensa que um colisor maior que LHC vai ser eventualmente construído? E isso vai depender de alguma nova descoberta do LHC?

As questões prominentes na física são importantes e complexas e difíceis, elas necessitam do desenvolvimento de todas as abordagens que a disciplina desenvolveu, de colisores de alta energia até pesquisas cósmicas. Aceleradores de alta energia tem sido nossa ferramenta mais poderosa na exploração da física de partículas, então não podemos abandonar eles. O que devemos fazer é incentivar a pesquisa e desenvolvimento na tecnologia de aceleradores,  para que possamos atingir energias mais altas com aceleradores compactos.

Greg de Souza

Greg de Souza

Cético, Racionalista, Humanista e Adorador de Monty Python, ocupa-se pensando piadas ruins, passa o tempo livre cursando física. Acredita que 0 deve ser um número natural e que o mundo seria um lugar melhor caso o mundo fosse um lugar melhor.