Pular para o conteúdo

Conceitos errôneos em torno do “cientificismo”

Artigo de Andrés Pereyra Rabanal
Tradução de Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Resumo

Uma das premissas centrais da filosofia científica é o seu compromisso com o cientificismo. Um sistema filosófico construído com a ajuda de ferramentas formais, como a matemática e a lógica matemática, assim como também é compatível com a maior parte do conhecimento científico, é o propósito dos filósofos orientados pela ciência. No entanto, a filosofia científica é confundida muitas vezes com o positivismo lógico (Carnap e Schlick) tal como concebido Reichenbach, isto é, como um programa de assimilação da filosofia às ciências naturais. De maneira igual, confunde-se com a “metafísica naturalista” (Ladyman e Churchland) que considera que a ciência deve seguir o modelo das ciências físicas sem dar conta de propriedades emergentes tais como as biológicas, psicológicas ou sociais. Ainda que todas adotem uma concepção científica do mundo, é necessário um enfoque distinto da ontologia, da semântica e da epistemologia que caracteriza a filosofia científica. Exibem-se aqui conceitos errôneos associados (positivismo, reducionismo e fisicalismo), tentando responder em que medida os homens de ciência confirmam o cientificismo. Em um segundo momento, mostra-se a possibilidade de um programa cientificista, tal como promove Bunge, enquanto principal defensor de uma filosofia orientada pela ciência, defendendo com ele o cientificismo como slogan dos filósofos com a instrução científica e dos cientistas com a vocação filosófica.

1. Ciência e cientificismo

O “cientificismo” tem uma história não tão extensa como sua fama. Ele tem sido considerado como a expansão do método científico e os conceitos da ciência em todos os domínios da vida humana a quem não pertencem (Wieseltier 2011). Compreendida sua natureza como hipótese filosófica, é também confundido com o “positivismo”, o “reducionismo” ou o “materialismo”, ou bem rejeitado por endossar o “racismo científico” ou o “imperialismo da ciência” (Pinker 2013). Foi Hayek (1955) que colocou o “cientificismo” a uma autêntica “perspectiva científica” como uma posição preconceituosa contra as ciências sociais ou humanidades que em resposta não deveriam oferecer fatos objetivos, mas apenas descrições qualitativas da ação humana. Então, Haack (2010) resumiu o “cientificismo” como uma atitude diferente para o prestígio da ciência, uma busca de respostas a que não lhe compete, ou uma negação de outras atividades como a arte ou a poesia.

A verdade é que a investigação científica é a busca objetiva, metódica e sistemática de explicações e regularidades da realidade enquanto que uma filosofia em dia com a ciência deveria interessar-se pela aproximação de perguntas relevantes a luz do melhor conhecimento disponível e com a ajuda de ferramentas elaboradas pela ciência formal (Bunge 2002). Assim como indica Coniglione (2007), tal programa não é equivalente ao empirismo lógico e nem a filosofia analítica por ter sido considerado um projeto sui generis dentro do estado atual do pensamento filosófico. Enquanto compartilha-se com o positivismo lógico a mesma origem ancorada a filosofia inglesa (Moore e Russell) e a tradição austríaca (Brentano), uma filosofia científica busca adotar o enfoque científico com que um endosso ao “cientificismo” descreveria o compromisso dos filósofos com a instrução científica e dos cientistas com a vocação filosófica.

Mas a ciência como empreendimento intelectual encontra tanto defensores como inimigos na cultura contemporânea. Ela tem produzido um corpo cada vez maior de conhecimentos acerca do mundo, nos informa como funciona e proporciona hipóteses sobre as leis que a regem. Contudo, ela não é um empreendimento perfeito. Embora não se possa negar suas realizações tanto em seus aspectos teóricos e práticos como visto no desenvolvimento das engenharias físicas ou biomédicas, a adoção de uma Wissenschaftliche Weltauffassung é um recurso compartilhado apenas pelo empirismo lógico (Carnap e Reichenbach), o pragmatismo (Dewey e Lewis) ou o naturalismo metafísico (Ladyman e Churchland). Saliento, no entanto, a situação da hermenêutica, da fenomenologia, da teoria crítica ou o pós-modernismo em determinados ambientes intelectuais na qual a ciência e seu produto, o conhecimento científico, passam a ser abordados de acordo com outras abordagens ao invés da atividade científica, tecnológica e industrial.

Apesar de ainda não terem declarados inimigos explícitos da ciência e tecnologia, os círculos acadêmicos que enaltecem posturas não-científicas, pseudocientíficas ou abertamente anticientíficas recriminam a quem aderem a um “cientificismo” entendido como o emprego das realizações das teorias com maior aceitação científica para compor uma cosmovisão que substitua as mitologias do passado (Mosterin e Torreti 2002). O certo é que os cientificistas defendem a concepção segundo a qual a investigação científica é o melhor modo de assegurar-se um conhecimento preciso acerca do mundo (Bunge 2007). Como tal, é um componente essencial tanto do positivismo lógico como do pragmatismo. De fato, a frase de Peirce segundo a qual não devemos bloquear o caminho da investigação em nenhum assunto do conhecimento pode ser visto como uma promoção precoce do cientificismo (Peirce 1955). A filosofia científica reúne os aspectos positivos de ambos, mas também incide sobre os mesmos adversários que estão centrados em recusar a visão científica do mundo, em vez de enfrentar a anticiência na cultura.

Embora o termo “cientificismo” seja usado pejorativamente para referir-se ao hábito e modo atual de expressão de cientistas, filósofos como Bacon, Descartes e Locke podem ser considerados os seus precursores ao assumir que o enfoque científico é o melhor meio para obter conhecimento do mundo, mas não fica claro se a sua concepção de filosofia era invariavelmente cientificista e se isso supõe algo pernicioso (Lugg 2001). Mas tanto a filosofia naturalista da época como o empirismo, o positivismo de Comte e a filosofia pragmatista apostaram por adotar uma perspectiva científica do mundo.

Com a dissolução do Wiener Kreis inicia-se uma epistemologia artificial. Pode-se reconhecer o formalismo que preconizavam os membros do Círculos de Viena e a Escola de Berlim, mas atados a tradição empirista e contrários ao realismo inerente ao enfoque científico. A partir de Wittgenstein se deixa de falar da ciência para centrar-se em sua linguagem, uma vez que deixaram de interessar-se pelos problemas autênticos colocados pelas teorias científicas para refletir sobre o uso de expressões (Bunge 2008a). O amor pela ciência que os empiristas lógicos propagavam não era correspondido pela ciência da época. Pelo contrário, no lugar de opor-se ou superestimá-la, o cientificismo endossa a natureza da atividade científica, mas isso não evitou que ele seja considerado equivalente ao “positivismo”, ao “reducionismo”, ao “materialismo”, a uma “atitude dogmática”, e, incluindo, a uma “religião secular”, embora desde a revolução científica, a pseudociência, a magia ou superstição sejam consideradas opostas a perspectiva científica (Dilworth 2006).

É compreensível, portanto, que Hughes (2012) contraponha a atitude dos cientistas com a atitude dos filósofos positivistas, mas equivoca-se ao assumir que o cientificismo demande a proliferação do domínio da ciência natural ao ponto de pontificar sobre as demais áreas. Sua classificação responde ao papel emocional da filosofia atual mais do que a uma abordagem adequada sobre o significado de “cientificismo”. Supondo que por cientificismo se entenda uma “competência universal” (expressão atribuída a Atkins) da ciência sobre o resto dos assuntos, naturalmente incorre-se em uma contradição dado que o cientificismo não é um assunto científico, mas sim filosófico (especificamente gnoseológico). De maneira igual, termina sendo confundido como um conjunto de programas reducionistas tal como o “fisicalismo” de Neurath (contraposto por certo ao enfoque fenomenista de Carnap) ou o “biologicismo” exposto tanto na sociobiologia de Wilson como na psicologia evolucionista de Cosmides ou Buss. O primeiro assegura que toda coisa particular x tem exclusivamente propriedades físicas F de tal forma que ∼Fx ∈ ∅, ou se preferir, corresponde com o indivíduo nulo tanto como elemento neutro do conjunto de coisas físicas (reais) posto que o cardinal do conjunto vazio é zero.

O reducionismo resulta de uma estratégia metodológica pois ao reduzir se pressupõe a existência de que níveis superiores sejam explicados pelos inferiores. Por sua parte, a redução ontológica resulta da identificação de dois conjuntos A = B ou melhor da inclusão de um em outro segundo a forma A B. Talvez por isso, a principal acusação contra o cientificismo tenha surgido ao confundir “reducionismo” com “materialismo”. Enquanto que o primeiro é uma operação principalmente epistemológica, o segundo é uma hipótese ontológica que não guarda relação necessária com a metafísica atomista e nem implica a uma redução da matéria aos objetos da mecânica clássica (momento linear, força gravitacional, queda livre, etc.). É sabido que Newton estabelece que a massa é a quantidade de matéria associada a cada partícula de um corpo com o que pode ser considerada como a medida de sua inércia. Em troca, se pode aceitar um materialismo em que os campos sejam um modo básico de matéria dado que não possuem massa, mas seguem sendo, não obstante, físicos. O materialismo, sem necessidade de reduzir-se as equações da mecânica, pode estender-se a toda ciência (como a única exceção das ciências formais) exigindo respeito, pelo menos, a lei da conservação. Por isso, o materialismo não implica em qualquer programa reducionista, uma vez que não seguir explicitamente as leis físicas não significa violá-las (mais sobre “redução” e “emergência” em Bunge 2004).

Mosterin e Torreti (2002) salientam que o termo é utilizado, em geral, como uma abominação contra o emprego dos métodos e conceitos das ciências naturais (física, química e biologia) para o estudo da vida humana; ou melhor a consideração de que a investigação científica, assim concebida, deve produzir uma solução para os problemas da humanidade. Mas o cientificismo sustenta que a ciência seja o melhor modo de procurarmos conhecimento fático e preciso e não supõe que seja o único, dado que existe o conhecimento ordinário, técnico ou filosófico. De forma igual, o emprego errôneo de termos científicos resulta em um abuso da linguagem da ciência. Todavia, ainda é confuso saber como podemos estender a linguagem da biologia para a explicação das transações econômicas,  ainda que tal propósito tenha demonstrado êxito no caso da psicobiologia (Por exemplo Hebb 1949; Breedlove, Rosenzweig e Watson 2007; Pinel 2007). Também Lewontin, Rose e Kamin (1984), Jay Gould (1996) ou Panksepp e Panksepp (2000) tem recusado a tentativa da sociobiologia para explicar o comportamento social em termos genéticos.

O excesso de emprego de um aparato matemático nas ciências imaturas como a psicologia ou a economia pode chegar também a refletir certa artificialidade formal. Presentear a especulação mediante um formalismo matemático ou em linguagem da ciência não é tanto um exemplo de cientificismo, mas é um sinal de incompetência filosófica como a formalização da psicanálise de Balzer e Moscou (Westmeyer 1989). Por isso, a necessidade de um critério de demarcação entre ciência e pseudociência não é uma questão trivial. Distinguir entre ciência e impostura, tal como relatam Sökal e Bricmont (1999), é urgente antes da presença da superstição e irracionalidade no clima intelectual. (Mais a respeito em Wynn e Wiggins 2001; e Park 2010). Por isso, é uma matéria de ativa discussão com relevância especial no terreno intelectual pela inclusão de assuntos pseudocientíficos como a homeopatia, a psicanálise, a psicologia transpessoal, o biomagnetismo ou o criacionismo na educação pública que não seguem o método, o enfoque e nem os pressupostos da investigação científica.

A suposta difamação da ciência para outras atividades pode conduzir a abordagens equivocadas sobre qual atividade é mais valiosa. No que compete aos fins cognitivos, os cientificistas sustentam que a ciência é o melhor modo para proporcionarmos informação que descreva, explique ou prediga o comportamento dos fenômenos factuais. De forma igual, buscar na ciência respostas que não correspondem tem sido uma acusação dirigida às cosmologias especulativas como a hipótese do multiverso, as éticas evolucionistas, e, incluo, as epistemologias naturalizadas (Hughes 2012). Contudo, a ciência não busca substituir atividades que não envolvem fins cognitivos como a arte e nem o direito, por isso que suponho que estender-se para essas áreas também seria uma mostra do mesmo desacerto filosófico que implicaria buscar em tais disciplinas hipóteses ou explicações causais. O cientificismo se encontra respaldado pela própria história da ciência para que possa ser assumido como um postulado tácito para os cientistas.

Como adverte Lugg (2001), a concepção científica da filosofia não é única. Se o “anticientificismo” critica a extensão errônea do método científico, o empirismo lógico seria anticientificista por se colocar além da ciência muito mais do que ela se propõe, pois o cognoscível se limitaria aos enunciados observáveis, ao invés dos conceitos teóricos e os mecanismos por trás dos fenômenos. Portanto, nem a filosofia científica é equivalente ao positivismo, nem o empirismo lógico é sinônimo de cientificismo. De fato, o “cientificismo” pode ser entendido melhor como uma evasiva a seguir o caminho proposto pela sociologia da ciência e Wittgenstein em um ambiente onde as outras alternativas – como a metafísica analítica – se encontram sem a maior relação com a ciência atual (Ladyman e Ross 2007).

De fato, as primeiras respostas ao positivismo foram o pragmatismo norte-americano (Dewey, Lewis), o racionalismo crítico (Popper), o programa estruturalista (Sneed, Balzer, Moulines) e o realismo científico (Kukla, Niiniluoto, Bunge), mas também pode incluir os membros da teoria crítica (Adorno) para quem o positivismo passaria a ser visto como um indicador de ideologia ou racionalidade tecnológica das sociedades industriais avançadas (Stockman 1983). Não obstante, o positivismo, na realidade, reuniu filósofos como Carnap, Neurath, Feighl, Waismann e Kraft com cientistas como Frank, Menger e Gödel. Da mesma forma, a Escola de Berlim com Reichenbach, von Mises e Hempel assumiram um mesmo intento de situar a filosofia no caminho seguro da ciência fora dos elementos ideológicos que possam contaminá-la como a metafísica tradicional. Bastaria mencionar que o julgamento contra Galileu, as condições em que Ramón y Cajal formulam a doutrina neuronal, as hipóteses de Mendel, a controvérsia sobre o ensino do criacionismo ou a recente reação contra as vacinas nos Estados Unidos são todos exemplos de que a relação entre “ciência” e “ideologia” não seguem as abordagens que a sociologia do conhecimento de Mannheim ou Latour proclamam.

Por esta razão gratuita acontece a confusão entre “ideologia” e “cientificismo”. Foram os regimes políticos (onde podemos incluir as intuições religiosas) que pressionaram os cientistas para estar em conformidade com a ordem ou mesmo interferindo na prática da ciência. Como documentou Walker (2002) foi a ciência que estava sob o ataque da ideologia desde o Reinado de Terror nazista para o affair (caso) Oppenheimer. Considerar a ciência como “política por outros meios” e exigir uma “ciência emancipatória” parece ser uma estratégia de críticos literários, filósofos e apologistas que fomentam o analfabetismo científico e promovem a pseudociência (Koertge 2000). É verdade que aqueles que fomentaram o cientificismo, como os empiristas lógicos, chegaram a concluir que as proposições religiosas não entram em conflito com as proposições científicas pois as primeiras, na realidade, não guardam relação lógica com os enunciados empíricos por se tratarem de pseudoproposições (Ayer 1984). Outra discussão é oferecida por Bunge e Mahner (1996) para quem a instrução científica é incompatível com a formação religiosa. Isso faz com que surja a acusação de que o “cientificismo” converteu-se em uma superstição sem evidência (Hughes 2012). Mas o cientificismo não dispensa a construção de teorias ontológicas, semânticas, epistemológicas ou éticas, como tampouco oferece conforto como se buscasse converter-se em algum substituto ideológico.

Em suma, o cientificismo assegura que todos os problemas do tipo cognitivo são mais bem abordados ao adotar um enfoque científico, porque a ciência é um tipo de conhecimento mais verdadeiro e profundo (Bunge 2007). O cientificismo não supõe, portanto, o positivismo – de fato, se opõe ao mesmo -, como tampouco ao reducionismo, ainda que admita o naturalismo ou materialismo na ciência. Tampouco é indicador da “ideologia” de qualquer sociedade industrial ou capitalista que ofusca outras atividades humanas em segundo plano sujeito ao benefício econômico. Procura encontrar respostas na ciência mesmo abordando problemas mediante hipóteses, ao invés de depositar a confiança na tradição, na intuição ou na revelação. A introdução do termo de Hayek às humanidades e aos assuntos sociais fez com que ele enfrentasse caricaturas no pós-modernismo, na fenomenologia, na hermenêutica e em outros campos similares que em resposta viraram “anticientificistas”, mas a promessa da ciência é enriquecer as ferramentas intelectuais de todo o tipo de investigação, não eliminá-las (Pinker 2013).

Se o cientificismo é a adoção do enfoque científico, também supõe a adoção dos pressupostos filosóficos das ciências naturais, das ciências sociais e das humanidades. Ao seguir a consigna “anticientificista” de autores como Dilthey ou Hayek, então a psicobiologia, a antropologia biológica, a geografia física, a biosociologia, a psicofísica ou a neurociência social seriam tanto inexplicáveis como impossíveis. Se retermos ao seu significado estritamente filosófico (quando não histórico), o cientificismo acaba sendo um componente de um programa desatualizado como o empirismo lógico; ou um componente essencial de um programa para construir, digamos, uma autêntica filosofia científica.

2. Cientificismo e filosofia

A filosofia científica trata de resolver os problemas deixados pela filosofia tradicional, aborda outros novos e procura estar em continuidade com a ciência formal e fáctica (Bunge 1971). De forma igual, se encontra ancorada em problemas científicos genuínos em vez de especulações descontroladas (Wilson 2010). Portanto, considera que a investigação filosófica é tanto possível como necessária pois compartilha os mesmos fins cognitivos da ciência. Por esta razão, poderia definir-se melhor o cientificismo como a concepção segundo a qual mais que uma ciência em particular (p. ex., a física), é o enfoque científico o melhor modo para obter conhecimento sobre a realidade. Posto que a filosofia científica assume este enfoque, embora não seja necessariamente uma ciência, supõe-se junto com esta que é o melhor modo de adquirir conhecimento e construir uma cosmovisão racional e científica do mundo.

A construção de sistemas filosóficos baseados na ciência é uma proposta original até certo ponto irreconciliável com o positivismo (Christiaens 2011).  A filosofia pode ser científica sem converter-se em uma ciência e nem ser absorvida pela física ou psicologia. Ainda que o termo tenha sido difundido por Reichenbach, por “filosofia científica” pode se entender muitas coisas. Tem sido bem visto que o empirismo lógico concebeu auxílio para melhorar a linguagem e a lógica da ciência. De forma igual, Quine, Ladyman e Ross a concebem como parte da ciência enquanto reúnem as afirmações da matemática (especialmente a teoria dos conjuntos), a psicologia cognitiva e a física, em vez da filosofia da mente e da metafísica (Leitgeb 2013). Finalmente, pode ser entendida como filosofia realizada mediante os métodos científicos, mas mantendo os seus próprios problemas. Desta maneira, destacam os métodos matemáticos (desde a lógica de primeira ordem até a teoria de modelos passando pela teoria da probabilidade até o cálculo elementar) ou os métodos experimentais (Knobe).

Certamente, não há um papel claro da ciência nas humanidades. Se o papel de tais disciplinas não é aumentar o estoque de conhecimento, não cabe apenas fomentar o pensamento reflexivo, a atitude crítica ou a criação estética. Como indica Pinker (2013), as humanidades têm assumido um papel de indiferença para com a ciência, mas, sem dúvida alguma, podem enriquecer pelas descobertas das neurociências, da genética ou da sociologia. Depois de tudo, Dewey (2002) considerou que a moral deveria basear-se no estudo da natureza humana, em vez de descartar a psicologia ou a antropologia. Não se pode esperar menos de outros ramos da filosofia como a ontologia com a física de partículas, a ética com a ciência social, ou a epistemologia com a matemática.

Agora, a ciência não tem conseguido ocupar o eixo do desenvolvimento social no ideário nacional dos regimes latino-americanos, encontrando-se estagnada desde a febre positivista, exceto para os progressos de baixa escala agravados pela revolução digital. Os líderes dos movimentos sociais tendem a ignorar ou mesmo desprezam o papel da ciência, brilhando por conta própria a insuficiência de suas habilidades de treinamento. Dada esta falta, a filosofia proposta por Mario Bunge busca promover uma filosofia em dia com a ciência, com as técnicas e com a realidade social que tenta ampliar os problemas que interessam os cientistas, os técnicos, os estadistas, os empresários, os dirigentes políticos ou dirigentes sindicais (Bunge 2008b), o que obriga a revisar, então, a sua particular localização entre as correntes intelectuais atuais.

Uma das obras mais representativas da filosofia científica junto com Scientific Research (1967) é o colossal Treatise of Basic Philosophy de Bunge desenvolvido durante aproximadamente duas décadas. Os dois primeiros tomos abarcam a semântica ou filosofia da linguagem (Sense and Reference, 1974; Interpretation and Truth, 1974). A linguagem ocupa um assento inicial, ainda que não em definitivo, para toda especulação filosófica, pois esclarece os conceitos empregados, enquanto tenta exactificarlos. Mas também deve reconhecer-se as suas contribuições no âmbito da metafísica, sendo os dois tomos seguintes a sua principal contribuição para o tema. The Furniture of the World (1977) e A World of Systems (1979) expõem as orientações para uma ontologia que dê conta da estrutura da realidade. Derruba o falso muro imposto pelos positivistas ao desenvolver uma ontologia realista, sendo um dos expoentes mais importantes da metafísica da emergência e representante atualmente mais destacada (como testemunha David Blitz 1992). Expõe um sistema filosófico que da conta das mudanças e dos processos de distintos níveis da realidade de acordo com o qual o mundo deve ser compreendido como um sistema de sistemas, em vez de um bloco sólido ou conjunto de indivíduos. O materialismo aqui exposto admite a aparição de novas qualidades em sistemas materiais que possuem um todo, como estar vivo (propriedade emergente das células), perceber (propriedade emergente de determinados sistemas neurais) e a estrutura social (propriedade de todos os sistemas sociais).

Naturalmente, o Treatise tampouco poderia deixar de lado a epistemologia. Cabe mencionar que representa quase a metade da extensão da obra (três tomos em quatro volumes). Os dois primeiros fornecem as bases de uma filosofia da ciência, a metodologia e a gnoseologia (Exploring the World, 1983; Understanding the World, 1983). Um interesse particular cobra o seguinte tomo, pois se dedica a discutir a filosofia da técnica e as disciplinas particulares, desde as ciências formais até as ciências sociais (Philosophy of Science and Technology: Part I. Formal and Physical Sciences, 1985; Part II. Life Science, Social Science and Technology, 1985). Pode-se estimar a importância do Treatise pela discussões que gerou entre cientistas e filósofos. Em 1990 foi publicado Studies on Mario Bunge’s Treatise, editado por Paul Weintgartner e Georg J. W. Dorn, com artigos de conhecidos autores como Ferrater Mora, Bochenski, Agassi (discípulo direto de Popper), Blitz, ou Francisco Miró Quesada; assim como Scientific Philosophy Today: Essays in Honor of Mario Bunge (1982) editado por Joseph Agassi e outros como homenagem. Assim também em 2003 foi realizado um congresso em sua homenagem (Congreso-homenaxe internacional a Mario Bunge) que reuniu Jesús Mosterín, Miguel Ángel Quintanilla, Mahner, entre outros. Finalmente em destaque, ainda que com menor extensão, o tomo final do Treatise: a axiologia e a ética (Ethics: the Good and the Right, 1989).

Não obstante, é difícil estimar o impacto do pensamento científico na América Latina que poderia servir de base para a filosofia. A migração desde 1960 e a insuficiência de governos e universidades com a política científica na Argentina, a mobilidade internacional de estudantes mexicanos, ou a ausência de mecanismos de retorno de cientistas no Peru são amostras da realidade da ciência e tecnologia na região (Didou et al. 2013). Apesar disso, Dussel considera que Bunge formou parte de uma geração de filósofos que elevaram o rigor da especulação acadêmica na América Latina (Miró Quesada, Klimoski, Villoro e Rossi), encontrando dificuldades metodológicas nos enfoques husserlianos e marxistas, embora sob uma clara influência da filosofia anglo-saxônica (Dussel 2003). O próprio Beorlegui (2004) apenas menciona o filósofo argentino, com igual ou menor extensão que Castañeda, Risiero, Laclau ou Newton da Costa.

A recepção da filosofia analítica pela vertente positivista (Gónzales Prada, Zea, Sarmiento, Ingenieros, Alberdi e Barreda), prontamente abandonada pelo espiritualismo herdado por Bergson na América Latina, contribuiu para identificar falsamente Bunge como membro desta corrente. A marca por fazer filosofia científica também se contrasta com as revoluções latino-americanas da época, quando era cobrado um interesse fundamentalmente ideológico pela libertação do homem americano, pelo qual uma filosofia deste tipo resultaria em comodismo ou mesmo conformismo nesses tempos em que a “filosofia estaria subtraída de qualquer compromisso com os agudos problemas sociais e políticos” (Valdés 1998). De todas as maneiras, Bunge ocupa um destacado papel na introdução do pensamento analítico na América Latina dos cinquenta que só foi interrompido por sua emigração para o exterior, mas que seria continuado com linhas próprias por Klimovsky, Moretti e Rabossi na Argentina, ou Villoro e Tomasini no México. Mas este distanciamento, ainda drástico, não significaria uma cessação da relação entre Bunge e os países sul-americanos como se pode examinar com as frequentes disputas em que o argentino envolveu-se por sua impopulares embora categóricas opiniões dos quais têm sido acusado em não poucas ocasiões de “positivista”.

A confusão que fazem em identificar a filosofia científica como positivista acontece por sua forte defesa às ciências exatas e disciplinas rigorosas. É certo que o positivismo não ocupa mais o seu lugar, senão apenas nas mentes de alguns poucos adeptos, por isso que Bunge tem uma vantagem de não ser, porque desde muito muito cedo procurou refutar o positivismo considerando-o como uma família de doutrinas “que exigem que se atenta unicamente aos fatos ‘positivos’ (experiências) e que afirmam que as teorias só resumem em dados e não ajuda-nos a pensar. Apesar dos positivistas pregarem o cientificismo (…) mantinham uma epistemologia centrada no sujeito e cortavam as asas da investigação científica por exigirem que ela esteja em conformidade com os dados. Também declaravam evitar a metafísica mas, de fato, ratificavam o fenomenismo (…) que é uma metafísica subjetivista” (Bunge 2007, p. 167). De qualquer forma, esta filosofia apenas reclama que se atenta a ciência para orientar a sua construção e inspirar as suas conclusões.

Acontece que o lugar da ciência e epistemologia na universidade latino-americana por três décadas pode ter surgido de forma escassa, sem noções técnicas de nível universitário e desabastecida de ferramentas da lógica moderna. A pregação irracionalista na América Latina caracteriza-se pelas pretensões coloniais conservadoras, um desejo de retornar a uma economia pastoral, uma bucólica cultura histórica-literária e uma total abertura ou encerramento dos mercados. Assim, podemos abordar o adiamento da entrada de uma filosofa científica como um efeito de certo anglo – ou eurocentrismo que desdenha a obra original, acompanhada de um sério déficit de produção científica e tecnológica. Isso supõe uma baixa circulação de revistas científicas especializadas que insistem em desvendar problemas filosóficos de todos os tipos em conformidade com a difusão de uma filosofia obscurantista ou ultrapassada em relação ao desenvolvimento científico contemporâneo (em clara oposição ao popular apreço cultural que tem a empresa bélica, religiosa, demagógica e até mesmo esportiva nas regiões em desenvolvimento). Não há melhor sorte em outros países de língua espanhola, embora autores como Mosterín com obras como Conceptos y Teoría en la Ciencia (2000) e a recente Ciencia, Filosofía y Racionalidad (2013) sejam também exemplares do contínuo entre ciência e filosofia que promovem a filosofia científica.

Em suma, o termo “científico” deveria admitir pelo menos dois tratamentos. Como substantivo, é equivalente ao homem de ciência que cultiva e se dedica a alguma ciência, desde a física à economia. Como adjetivo, por outro lado, significa aquele pertencente ou relativo à ciência; ou que tem a ver com as exigências de precisão e objetividade da metodologia das ciências (RAE 2011). Não há dúvida sobre a pertinência de considerar algumas disciplinas como científicas, enquanto ainda se discute a cientificidade de outras como a psicologia evolucionista ou a sociologia cultural. Além disso, poucos seguem considerando a filosofia como uma ciência; ou melhor, ninguém considerou o filósofo como um cientista no primeira sentido. O cientificismo, no entanto, é um elemento essencial para a filosofia científica e da própria prática científica per si. Embora parcial ou totalmente adotada por outros enfoques, nem o empirismo lógico, o pragmatismo ou a metafísica naturalista contam com um programa como o que foi gerado pela filosofia científica. Para este programa, o cientificismo não supõe nenhum obstáculo ou preconceito, mas pelo contrário, a melhor aposta intelectual para adotar integralmente o enfoque científico para a abordagem de qualquer problema que implique filosofar cientificamente e encarar a ciência filosoficamente.

Referências

  1. Ayer, A. J. (1984), Lenguaje, verdad y lógica, Buenos Aires: Orbis
  2. Breedlove, M., Rosenzweig, M., Watson, N. (2007), Biological Psychology. 5th Ed. USA: Sinauer Asociates Inc.
  3. Bunge, M. (2007), A la caza de la realidad. La controversia sobre el realismo, Barcelona: Gedisa.
  4. Bunge, M. (2002), Crisis y reconstrucción de la filosofía, Barcelona: Editorial Gedisa.
  5. Bunge, M. (2009), Diccionario de filosofía. 4ta ed., México: Siglo XXI Editores.
  6. Bunge, M. (2011), El problema mente-cerebro. Un enfoque psicobiológico. 3ra Ed. Madrid:  Tecnos
  7. Bunge, M. (2004), Emergencia y convergencia. Novedad cualitativa y unidad del conocimiento. Barcelona: Gedisa
  8. Bunge, M.  (2008a), Epistemología. Curso de actualización. Barcelona: Ariel
  9. Bunge, M. (2008b), “Estrategia de la investigación científica”, Lavado L. (Ed.), Los roles de  la Filosofía, Lima: Fondo Editorial de la UIGV
  10. Bunge, M. (1971), “Is Scientic Metaphysics Possible?”, The Journal of Philosophy, Vol. 68, No. 18, Sep. 2, 507-520.
  11. Bunge, M.  (2001), La investigación científica, México, Siglo XXI.
  12. Bunge, M.  (1974-89), Treatise on Basic Philosophy, 8 vols., Dordrecht and Boston, Kluwer.
  13. Bunge, M. y Ardila, R. (1987), Filosofía de la psicología, Barcelona, Ariel.
  14. Bunge, M., & Mahner, M. (1996), “Is Religious Education Compatible with Science Education?” Science and Education, 5 (2): 101-123
  15. Christiaens, W. (2001), Introduction. Philosophica 67(1): 5-9.
  16. Coniglione, F. (2007), “The Place of Polish Scientific Philosophy in the European Context”, Polish Journal of Philosophy 1(1):7-27.
  17. Cupani, A. (1998), “Mario Bunge: Un estilo polémico de análisis filosófico”, Revista Latinoamericana de Filosofía. Vol. XXIV, No. 2., 237-249.
  18. Dewey, J. (2002). Human Nature and Conduct. USA: Dover.
  19. Didou, S., Luchilo, L, Piscoya Hermoza, L. y Stubrin, A. (2013). La formación internacional de los científicos en América Latina. Debates recientes. México D. F.: ANUIES.
  20. Dilworth, C. (2006), The Metaphysics of Science. An Account of Modern Science in Terms of Principles, Laws and Theories. 2nd ed. Netherlands: Springer.
  21. Dussel, Enrique (2003), “Philosophy in Latin America in the Twentieth Century: Problems and Currents”, On the Historiography of Latin American Philosophy, USA: Indiana University Press.
  22. Haack, S (2010), Seis signos de cientismo. Discusiones filosóficas, 11(16): 13-40
  23. Hayek, F. A. (1955). The counter-revolution in science. USA: The Free Press
  24. Hebb, D. (1949), The Organization of Behavior, New York: Wiley & Sons.
  25. Hughes, A. (2012). The Folly of Scientism. The New Atlantis. A Journal of Technology and Society. 37, Fall, 32-50.
  26. Jay Gould, S. (1996), The Mismeasure of Man, New York: W. W. Norton & Company.
  27. Ladyman, J., & Ross, D. (2007), Every Thing Must Go. Metaphysics Naturalized. New York: Oxford University Press.
  28. Leitgeb, H. (2013), “Scientific Philosophy, Mathematical Philosophy, and All That”, Metaphilosophy, 44(3):267-275.
  29. Lewontin, R., Rose, S., Kamin, L. (1984), Not in our genes. Biology, Ideology and Human Nature. New York: Pantheon Books.
  30. Lugg, A. (2001), Pseudociencia, racionalismo y cientismo, Lima: AERPFA.
  31. Koertge, N. (2000), A House Built on Sand: Exposing Postmodernists Myths About Science. New York: Oxford University Press.
  32. Matthews, R. (2009), “Mario Bunge: Physicist, philosopher and defender of science”, Revista electrónica de investigación en educación en ciencias, Año 4, n. esp. 1, Buenos Aires, Versión aumentada del trabajo que apareció originalmente en Science & Education, 12 (5-6), 2003, <http://reiec.sites.exa.unicen.edu.ar/numero-especial>.
  33. Mosterín, J. (2006), Crisis de los paradigmas en el siglo XXI. Lima: Fondo Editorial de la UIGV.
  34. Mosterín, J., y Torreti, R. (2002), Diccionario de lógica y filosofía de la ciencia. Madrid: Alianza
  35. Panksepp, K., y Panksepp, J. (2000), The Seven Sins of Evolutionary Psychology. Evolution and Cognition. Vol. 6, No. 2., 108-131.
  36. Park, R. (2010), Superstition: Belief in the Age of Science. Princeton, N.J: Princeton University Press.
  37. Peirce, C. (1955), Philosophical writings of Peirce. New York: Dover.
  38. Penrose, R. (1989), The Emperor’s New Mind. Oxford: Oxford Publisher.
  39. Pinel, J. (2007), Biopsicología. 6ta Ed. Madrid: Pearson Educación.
  40. Pinker, S. (2013). “Science is not your enemy.” New Republic. Aug. 6. Edición en línea disponible en:   <http://www.newrepublic.com/article/114127/science-not-enemy-humanities>
  41. Popper, K. (1979), Ausgangspunkte: Meine intellektuelle Entwicklung, Hamburg, Hoffman und Campe [Unended Quest. An Intellectual Autobiography, La Salle, Illinois, Open Court Publishing Co., 1985].
  42. Popper, K. (1963), Conjectures and refutations: The Growth of Scientific Knowledge. New York: Routledge.
  43. Popper, K. (1959), The Logic of Scientific Discovery, London: Hutchinson.
  44. RAE (2011). Diccionario de la lengua española. 23a ed., Madrid: España.
  45. Russell, B. (1969), La perspectiva científica. Madrid: Sarpe.
  46. Sobrevilla, David (1996) “La inexistente polémica en torno a Mario Bunge. Crónica de una campaña equivocada”, Socialismo y Participación, n. 75 (Set.), p. 115-122.
  47. Sokal, A., & Bricmont, J. (1998), Fashionable Nonsense: Postmodern Intellectuals’ Abuse of Science. USA: Picador.
  48. Stockman, N. (1983). Antipositivists Theories of the Sciences. Critical Rationalism, Critical Theory and Scientific Realism. Dordrecht: D. Reidel.
  49. Valdés G. Félix (1998) “Panorama de la filosofía analítica latinoamericana”, Filosofía en América Latina, Editorial Felix Varela: La Habana, 339-369.
  50. Walker, M. (2002), Science and Ideology: A Comparative History, New York: Routledge.
  51. Wilson, M. (2010), “What Can Contemporary Philosophy Learn From Our “Scientific Philosophy” Heritage?”, Noûs 44 (3):545-570.
  52. Wieseltier, L. (2011). Washington Diaries: The Answers. New Republic. Dec. 14. Edición en línea disponible en:  <http://www.newrepublic.com/article/washington-diarist/magazine/98566/science-atheism-meaning-life>
  53. Wstemeyer. H. (Ed.) (1989), Psychological Theries from a Structuralist Point of View.  Berlin/Heidelberg/New York: Springer.
  54. Wynn, C. & Wiggins, A. (2001). Quantum Leaps in the Wrong Direction. USA: Joseph Henry Press.
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.