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Cientistas suecos identificam novo marcador prognóstico em pacientes com neuroblastoma

Já há algum tempo, sabe-se que de todo o genoma humano, apenas 1-2 % é traduzido para produtos funcionais chamados de proteína. O restante do DNA que não era codificado para  proteínas fora chamado de DNA lixo (Junk DNA). Entretanto, a probabilidade de bilhões de pares de bases que não codificavam para proteínas não ter mesmo nenhuma serventia, era realmente muito baixa, além de ser ridícula. Por que teríamos tanto DNA, se este não servia para nada? Novas descobertas começaram a lançar alguma luz na verdadeira função da porção não codificante do genoma. Com as descobertas dos RNAs interferentes, microRNAs e outras pequenas moleculas de RNA que interferiam na transcrição de genes nocivos ao organismo hospedeiro, a real função da parte não codificada do genoma se torna cada vez mais clara: Regular doenças. Quanto ao número de genes que codificam para proteínas, não existe tanta diferença entre organismos menores, como vermes e bacterias, e organismos maiores, como nós humanos. O que nos difere geneticamente é a porção de DNA não codificante.

Uma última classe de RNAs não codificantes, descoberta recentemente, os longos RNAs não codificantes (lncRNA de long non coding RNA) têm gerado mais e mais curiosidade e motivo para estudo extensivos nos maiores centros de pesquisa do mundo. E é claro, a doença mais assustora da humanidade não poderia ficar de fora: Câncer.

Vários grupos de pesquisas respeitados no meio científico já idetificaram vários lncRNAs que interferem direta, ou indiretamente na formação do câncer.

Hoje, eu vou falar do NBAT-1, que o meu grupo, do professor Chandrasekhar Kanduri, da universidade de Gotenburgo, na Suécia, identificou.

NBAT-1 (neuroblastoma associated transcript 1) é um lncRNA que é expresso em tumores do sistema nervoso periférico chamados de neuroblastomas (NB), uma forma de câncer que afeta quase exclusivamente crianças. Este lncRNA tem a função de diferenciar as células cancerígenas para se tornarem células mais parecidas com células normais, e de reprimir a expressão de oncogenes cujos produtos tornam o câncer muito mais agressivo. Em outras palavras, o paciente de neuroblastoma cuja expressão de NBAT-1 é alta, tem tumores menos agressivos, e a prognose é muito mais favorável. Além disso, a sobrevivência total em pacientes de NB com altos níveis de NBAT-1 é maior do que em pacientes com baixos níveis da molécula, que se torna, um biomarcador de prognose para a doença.

O nosso grupo trabalha exclusivamente rastreando lncRNAs e assessando sua expressão em diversos tipos de tumores. Com a ajuda de poderosas ferramentas de bioinformática, rastreamos estas moléculas e validamos suas expressões em células de tumores. Quando temos um cadidato que se destaque tanto com baixa expressão em tumores ou alta (comparada com tecidos normais) começamos a triagem em células de tumores diretamente de pacientes e vamos então descobrindo quais as funções tais lncRNAs têm dentro do compartimento do tumor.

Nossos prospectos para o futuro, é conseguir desenvolver drogas que terão como alvo estas moléculas, para que tratamentos sejam desenvolvidos contra diferentes tipos de câncer.

Nosso estudo foi publicado na revista científica Cancer Cell, volume 26 edicão 5 em novembro de 2014.

Caroline Miranda

Caroline Miranda

Sou formada em biologia molecular pela Universidade de Skövde, Suécia, mestrada em biologia molecular pela mesma universidade, e mestrada em genética, pela Universidade de Gotemburgo. Atualmente sou doutoranda em medicina pela universidade de Gotemburgo. Sou pesquisadora de câncer e trabalho atualmente com pesquisa epigenética em RNAs não codificantes. Sou fascinada por astronomia e passo meu tempo livre olhando as estrelas do meu telescópio amador. Sou cética, acredito em fatos e afirmações baseadas em evidências. "Extraordinary claims require extraordinary evidence" Carl Sagan