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Carta para Carl Sagan

Publicado originalmente em TRENDR por Yara Laiz Souza

Querido Carl Sagan,

Você nunca deveria ter partido. Nunca, nunca mesmo, deveria ter deixado a nossa forma de existir. Eu estava apenas nascendo; em 26 de dezembro de 1996, quando tua caminhada encerrou, eu era apenas uma criança de um pouco mais de um ano de idade tentando descobrir o meu pequeno mundo próprio. Ainda demoraria muito tempo para ouvir falar de teu nome.

A gente vive numa época um pouco semelhante a tua. Quando o teu Cosmos entrou em vogue, a mídia que nada fazia de interessante te massacrou, mas, mesmo assim a tua força não foi perdida. Hoje, a tecnologia que deveria nos ajudar serve de instrumento para separar os conhecimentos, as pessoas. Nada do que você, um dia, sonhou que acontecesse.

Os conhecimentos de hoje, Sagan, são incríveis! Teu favorito planeta Marte: sabemos tanto sobre ele hoje! Sabemos bem todas as tuas dúvidas, já pensamos alto sobre colonização. Já até esboçamos melhor o que houve e o que acontecerá com o nosso próprio lar, Terra, daqui há muitos anos. Júpiter, que grandioso, hoje está cada vez mais interessante e incrível. Plutão, você deveria ver: maravilhoso! Ele tem um coração, sabia? Tão grande e amável quanto o teu foi.

A humanidade caminha para alguns caminhos tortos, mas não todos os humanos. Há tantas pessoas preocupadas com a Ciência — pessoas bem jovens até. Muito sobre as coisas que tu já falava como o aborto, a legalização da maconha, as viagens a longa distância e o futuro da Terra já são melhor debatidos. É uma alegria poder ter mudado muitos dos meus pensamentos para ideias mais abertas e cheias de liberdade assim como a tua mente um dia foi.

Sagan, eu sigo teus passos mesmo que não tenha me conhecido. Há mais alguém que também segue, mas esse você já sabe quem é: ele fez de Cosmos, em 2013, tão grandioso quanto o seu foi. Neil deGrasse Tyson é a tua presença por inteiro, o mesmo brilho nos olhos ao falar sobre o conhecimento, a mesma alegria de viver, o mesmo carisma e a mesma preocupação com o nosso lar Terra e o nosso lar Universo.

Há uma pequena legião que se inspira em ti. São muitos jovens e muitos adultos que enxergam em teu trabalho e teu brilho a oportunidade de não deixar a chama do conhecimento e da Ciência morrer. Somos os divulgadores científicos que você deixou como legado — mesmo após morrer. Saiba disso, Sagan, você é o grande responsável por isso. Não importa o quanto o mundo anda maluco, sempre haverá voz e garganta para falar sobre Ciência e para falar sobre você, suas ideias e ideais.

Graças a ti, Sagan, nós não queremos acreditar; queremos saber. Somos poeiras de estrelas, obrigada por nos falar sobre isso. Sabemos perfeitamente que o primeiro pecado da humanidade foi a fé e a primeira virtude foi a dúvida e isso faz tanto sentido. Deverias estar vivo para ver o quanto isso faz sentido.

O cérebro é como um músculo e quando pensamos bem, nos sentimos bem. E é essa sempre a sensação quando leio sobre os planetas, sobre a Biologia, sobre a Física, sobre a Ciência que nos cerca. Infelizmente, toda criança nasce cientista mas tiramos isso delas. Você fez o favor de colocar a cientista novamente em mim e minha carreira em Ciências Biológicas é graças ao teu trabalho.

Sagan, como eu queria que estivesse aqui. Teu aniversário desperta sempre em mim essas sensações. É alegria e tristeza. Você nunca deveria ter partido. Estaria fazendo 82 anos de pura maestria, de puro amor pelo conhecimento e vendo todas as pessoas que tu inspirou sendo gratos. O que mais me conforta é saber que você foi, realmente, poeira estrelar e cumpriu teu papel: brilhar. E, hoje, você está no modo mais comum da Ciência: na natureza. Está no teu lugar. Mas, assim, como a morte de uma estrela, o teu brilho será visto ainda por muito tempo. Até mesmo quando, um dia, a humanidade deixar de existir.

Yara Laiz Souza

Yara Laiz Souza

Estudante de Ciências Biológicas na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Divulgadora Científica nas redes sociais, escreve para diversos sites e revistas online, tem uma modesta página no Facebook (Ciência em Pauta - Por Yara Laiz Souza) e, nas horas vagas, cultua fotos do Benedict Cumberbatch no celular.