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Brian Cox: “É muito difícil discutir com um idiota”

Publicado por Jonathan O’Callaghan na I Fucking Love Science
Traduzido por Jessica Nunes
Revisado por Douglas Rodrigues

Conversamos com o professor Brian Cox sobre a Brexit, Trump, anticiência e muito mais.

É fácil permanecer ignorante nos dias de hoje, com os negadores da mudança climática, o movimento anticiência e até com os defensores da Terra plana.

Mas há uma luz no fim do túnel para tudo isso? Pode ser que haja, diz o professor Brian Cox em uma entrevista exclusiva com I Fucking Love Science (IFLS). Pode ser que haja apenas uma luz no fim do túnel.

Cox estava conversando com a IFLS antes da publicação de seu livro “Universal: Um Guia Para o Cosmos” na América do Norte, do qual foi coautor com o Professor Jeff Forshaw. Entre outras coisas, o livro discute como aplicar o método científico no mundo ao seu redor. Talvez, agora, mais do que nunca, seja algo que todos nós devemos aprender.

Confira nossa entrevista com ele abaixo, que foi editada por clareza e brevidade. O livro está disponível na Indigo (Canadá) e na Amazon (EUA).

Olá, Brian.

Olá.

O lançamento de seu livro “Universal: Um guia ao Cosmos” nos EUA é hoje (28/03). O que você espera que as pessoas obtenham dele?

Basicamente, o seu fundamento é de um livro de cosmologia, mas tem uma mensagem secundária que não está particularmente bem oculta sobre como sabemos das coisas.

Obviamente, no clima de hoje, onde você tem pessoas falando coisas sem sentido diariamente, é importante entender como podemos chegar a tais conclusões extremamente precisas sobre a natureza. E o livro é sobre isso.

Se você fosse escrever este livro novamente em 50 anos, o que você iria incluir?

Gostaria de saber se a inflação do universo, que é uma parte muito grande do livro, está correta. Se assim for, eu estaria interessado em saber se fizemos algum progresso sobre o fato da inflação eterna estar correta, o que essencialmente nos diz que há um número infinito de universos como o nosso. Gostaria [também] de saber se há vida além da Terra. Tenho certeza de que iremos avançar com certeza no meu tempo de vida.

Qual é a maior pergunta sem resposta na astronomia no momento na sua opinião?

Eu acho que é a natureza da energia escura. Em seguida, o porquê do universo estar se expandindo aceleradamente. Agora, é claro que é possível que esses resultados, embora eu ache improvável, estejam incorretos. Isso seria uma coisa maravilhosa também. Mas eu não acho que isso seja verdade. Eu acho que há uma evidência muito boa para a noção de que o universo está acelerando. E que, em seguida, levanta a questão: o que é que está causando essa expansão acelerada? Essa é uma pergunta enorme, enorme.

Você acha que Einstein ficaria feliz com o progresso que fizemos desde sua morte?

Sim, acho que sim. Você sabe, todo mundo quer que tudo corra mais rápido, mas ele morreu muito antes da era da cosmologia de precisão. Morreu antes que o fundo cósmico de microondas fosse descoberto. Quando ele morreu em 1955, você poderia legitimamente argumentar que não poderia ter acontecido um Big Bang. Agora, você pode ver que nós fizemos um grande progresso, eu penso que ele amaria ver tudo isso, ele amaria saber a idade do espaço. Ele morreu e não nos viu lançar nada no espaço.

Onde está a melhor aposta para a vida além da Terra?

Em Marte, provavelmente. Há muita água subterrânea em Marte. E parece que as condições estavam corretas para a vida emergir, e, possivelmente, persistir. Eu acho que, novamente, parece que as condições estão lá.

Parece que a origem da vida na Terra foi em torno de 4 bilhões de anos atrás, possivelmente até mais cedo do que isso, o que significa que a vida começou assim que pôde na Terra, o que talvez lhe dê uma sensação de inevitabilidade. Eu acho que isso aponta para o fato de que em qualquer lugar que tenha essas condições, pode muito bem ter vida. Mas nós não sabemos.

Quem vai ser o primeiro a ir para Marte: SpaceX ou NASA?

Acho que provavelmente será uma colaboração. SpaceX não está realmente em uma corrida com a NASA, eles são empreiteiros da NASA no momento. O que há é uma posição filosófica interessante, que pessoas como Elon Musk têm, que é que, para fazer as coisas melhor aqui na Terra, temos de ir para o espaço. E eu acredito que ele esteja correto. Há uma quantidade infinita de recursos lá fora esperando por nós, e assim a ideia de que os países têm de competir por uma quantidade limitada de recursos no planeta e construir barreiras se torna totalmente redundante, uma vez que você tem uma civilização espacial. Essa é uma parte fundamental do que pessoas como Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson estão fazendo.

Você iria para Marte?

Eu penso que eu iria através de voos suborbitais. Eu não acho que eu iria para Marte, porque eu acho que é para uma nova geração de pioneiros, por assim dizer. Estou provavelmente muito velho e sem preparo para ir e ficar em uma fronteira e ser como uma das pessoas que chegaram na América há mais de 100 anos. É trabalho duro, eu não sou esse tipo de pessoa [risos]. Mas eu gostaria de ver a Terra do espaço.

Na semana passada, Stephen Hawking disse que não se sentiria bem-vindo nos EUA como cientista. O que precisamos fazer para mudar a agenda anticiência moderna?

Como Richard Feynman uma vez disse: “não importa quem você é, qual seu nome é ou quão importante sua posição pode ser. Se o que você diz discordar da natureza, você está errado”.

Isto talvez atinja o cerne do problema que os cientistas podem ter ao falar com o público em geral. Porque a ciência não é definitivamente um sacerdócio onde as pessoas estão em uma montanha e passam verdades para seus seguidores. Esse é um método muito simples pelo qual tentamos entender a natureza.

Na ciência, você nunca tem certeza absoluta de estar certo. Isso é extremamente importante. Há humildade lá. Você pode mostrar que as coisas estão erradas, mas nunca pode mostrar que as coisas estão absolutamente corretas. Não há verdades absolutas na ciência. Se o seu experimento diz que a Terra tem 4,54 bilhões de anos, então você para de dizer que ela pode ter 6.000.

Em agosto, você apresentou gráficos para refutar o negador do clima Malcolm Roberts no ABC. Por que você optou por essa tática?

Em programas de bate-papo na televisão e, particularmente, nos encontros de bate-papo da atualidade, eles quase estão reduzidos ao nível da pantomima. Isso é lamentável, mas é assim que o mundo é. Em última análise, você não consegue convencer os indivíduos sobre o erro de sua posição, mostrando-lhes gráficos e falando-lhes sobre os fatos, que são bem documentados, isso não funciona. Mas o que você pode fazer é dar ao público uma sensação de que aquela pessoa não deve ser levada a sério.

Nós também vimos uma onda bizarra de pessoas a favor da Terra plana recentemente. Como você lida com pessoas assim?

Mais uma vez, eu não acho que você pode mudar a opinião de pessoas que são apenas ridículas. E esse é o exemplo mais ridículo que você pode imaginar. Eu acho que o que você pode fazer é apenas transformá-las rindo, que é a minha abordagem geral para as pessoas. É muito difícil discutir com um idiota. Particularmente, em um fórum, como um bate-papo, onde você tem uma quantidade limitada de tempo. Então, a minha opinião é que você tem que mostrá-las como tolas o mais rápido possível. Acho que é a única maneira que você pode prosseguir.

O artigo 50º será aprovado amanhã, retirando o Reino Unido da UE. Você está preocupado com a contribuição do Reino Unido para a ciência após a Brexit?

Sim. Porque a ciência é um esforço internacional. Dissemos muitas vezes que gostaríamos de fazer da Grã-Bretanha o melhor lugar do mundo para fazer ciência, tornou-se um tipo de slogan. E isso exige que seu país pareça ser um lugar cosmopolita acolhedor. E assim qualquer coisa que seu país faça e que dê a sensação de que você está recuando, que você está olhando para dentro, que você não é tão bem-vindo como você era para pessoas de fora de seu país, é ruim para a ciência e ruim para a indústria da educação em geral.

Se você tivesse cinco minutos para dar a Donald Trump uma palestra sobre qualquer coisa, o que escolheria?

Eu gostaria que ele lesse o ensaio de Richard Feynman chamado The Value of Science, no qual Feynman aponta que o início do caminho para a compreensão é a humildade. É uma ideia bem simples que acabamos de falar, que sua opinião é irrelevante em face da natureza. E você começa a partir daí.

Você acha que ele iria entender esse ensaio?

Bem, eu não sei. Não sei se alguém já se sentou e disse-lhe que o início do caminho para a sabedoria é a humildade. Talvez nunca ninguém lhe tenha dito.

Qual é a melhor maneira de um não cientista se envolver na ciência?

Acho que é a astronomia, a ciência que você pode fazer com seus olhos. Você não precisa de mais nada para começar a observar os movimentos dos planetas.

A outra coisa são projetos científicos para a comunidade, que permitem que você faça ciência real em sua casa. Há este site, Zooniverse, que é um lugar excelente onde você pode fazer ciência, não apenas a astronomia, na verdade, mas onde precisamos que as pessoas olhem grandes conjuntos de dados. Então, eu acho que há muito espaço nos dias de hoje. Mas eu começaria com a astronomia porque você pode fazê-lo de seu quintal.

Estamos em uma era de anticiência?

Não tenho certeza se estamos na era da anticiência. Atualmente, há algumas pessoas essencialmente ignorantes que desviaram um pouco, mas eu acho que sou um otimista. Acho que isso vai ser temporário. Nós vamos ver muito em breve que você não pode enfiar a cabeça na areia e ignorar a realidade. A realidade vai bater em você. A natureza está lá. Existe um mundo real.

Pode haver uma luz no fim do túnel para a agitação de 2016, onde vamos ver muito rapidamente que esse tipo de ignorância leva a um beco sem saída. Espero que o beco sem saída não seja muito sério, para que possamos reverter isso novamente.

Como ver os efeitos da mudança climática?

A mudança climática vai ser o que é. Não importa quem não gosta, as medições agora estão nos dizendo que o mundo está se aquecendo muito rapidamente, e a maior contribuição é a ação humana. Cada cientista climático que eu conheço diz “eu queria que estivéssemos errados”, eles ficariam encantados se houvesse uma falha em seus modelos e isso ter sido tudo um absurdo. Mas não parece ser o caso.

Na semana passada, você twittou que devemos “encontrar uma maneira de nos unir no interesse de nossa civilização”. Isso está ligado a isso também, os desafios que enfrentamos?

Sim. Em última análise, se quisermos sobreviver e nos tornarmos uma civilização multi-planetária, teremos de trabalhar juntos para gerir este planeta. A colaboração e cooperação internacional também é um pré-requisito para um futuro bem-sucedido. Não há dúvida sobre isso, e ninguém discute conosco. O que eu acho é que as pessoas têm um problema em entender que isso tem que começar agora.

Meu ponto de vista é que se eu vejo quaisquer acontecimentos políticos no mundo que estejam correndo contra essa trajetória, de entender que vivemos em um único planeta frágil e depois aprendemos a gerenciá-lo juntos, eu o ressalto.

Penso que a atual situação política é preocupante, e não só na Europa mas, obviamente, também nos Estados Unidos, porque há um aumento do instinto protecionista, e não é assim que iremos gerir o nosso planeta para sobreviver e prosperar.

E finalmente, qual é o seu “ilhão” favorito – milhão, bilhão, trilhão ou outro?

[Risos] Eu não sei. Depende do contexto de que você esteja falando. Eu suponho. Eu não sei. Eu não tenho um!

Obrigado pelo seu tempo Brian.

Obrigado a você.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.