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As mulheres são geneticamente protegidas do autismo, estudo sugere

São precisas muito mais mutações para que o autismo se instale nas mulheres do que nos homens, o que explica porque eles são quatro vezes mais propensos a ter a doença, de acordo com um estudo publicado em 26 de Fevereiro no American Journal of Human Genetics.

O estudo viu que as mulheres com autismo ou com atraso no desenvolvimento tendem a ter maiores perturbações nos seus genomas do que homens com os mesmos problemas. Mutações herdadas são, também, mais previsíveis de ser passadas de mães não afetadas do que de pais.

Juntos, os resultados sugerem que as mulheres são resistentes às mutações que contribuem para o autismo.

“Isto indica fortemente que elas são protegidas do autismo e do atraso no desenvolvimento e exigem uma maior carga mutacional ou mais sucessos mutacionais severos, com o fim de levá-los além do limite”, fala o pesquisador Evan Eichler, professor de Ciências do Genoma na University of Washington, em Seattle. “Homens, por outro lado, são bem menos robustos”

As evidências reforçam os estudos anteriores, mas não explicam o que confere a proteção do autismo nas mulheres. O fato de que o autismo é difícil de diagnosticar nelas talvez signifique que os estudos envolvam apenas as que são severamente afetadas e que podem ter, portanto, mais mutações, pesquisadores dizem.

“Os autores são os geneticistas, e a genética é fantástica” diz David Skuse, professor de Ciências Comportamentais e do Cérebro na University College London, e que não está envolvido no estudo. “Mas as questões sobre a apuração não são tratadas de forma adequada”

Carga Genética

O novo estudo parte do Simons Simplex Collection (SSC), um banco de dados de famílias que têm ao menos uma criança com autismo e pais e irmãos não afetados (Esse projeto é financiado pela Simons Foundation, organização-mãe da SFARI.org). Em um estudo de 2011, pesquisadores descobriram que as garotas com autismo no SSC tendiam a ter maiores duplicações ou deleções das regiões do genoma, chamadas de número de cópias variantes (CNVs), do que os garotos com o transtorno, embora que essa disparidade não tenha atingido significância estatística.

Pelo novo estudo, Eichler e seus colegas catalogaram o número de cópias variantes em 109 garotas e 653 garotos do SSC. Eles descobriram que as meninas eram duas vezes mais tendenciosas a realizar CNVs que os homens .

Quando os pesquisadores analisaram apenas os CNVs que representam genes de risco para transtornos de neurodesenvolvimento, eles descobriram que as garotas com autismo são três vezes mais tendenciosas que os homens para carregá-los.

Garotas com autismo também carregam mutações ligeiramente mais raras que mudam um único nucleotídeo do DNA em relação aos homens. Esta é a “mais horrível de todas as mutações”, diz Eichler, porque ela interfere nas funções das proteínas.

Os pesquisadores viram um efeito similar, mas pequeno, dos CNVs em um grande grupo de 9.206 homens e 6.379 mulheres submetidos a um teste genético, onde cerca de 75% de todos era tendencioso a ter um atraso no desenvolvimento, distúrbio intelectual ou autismo. As mulheres neste grupo têm 1,28 vezes mais aptidão que os homens para adquirir CNVs.

Muitas mutações ligadas ao autismo surgem espontaneamente e cerca de 80% delas estão ligadas à uma herança genética do pai. Porém, Eichler e seus colegas descobriram que as mulheres tem uma maior probabilidade de transmitir mutações genéticas através da hereditariedade, relacionadas ao autismo, do que os homens.

Dos 27 grandes transtornos CNVs que os pesquisadores identificaram no grupo do SSC, 70% foram herdados da mãe. As mães passaram, similarmente, cerca de 57% das 3.561 CNVs detectadas no outro grupo.

Eichler pretende estender o se trabalho para um estudo maior para avaliar se certas mutações são mais fáceis de ser herdadas do que outras. “Eu acho que é verdadeiramente crítico identificar esses componentes de hereditariedade”, ele diz. “Nós sabemos que eles estão lá, mas nós temos que focar na identificação de genes específicos”

Entretanto, não está claro se essa diferença de gêneros é o resultado da genética ou se reflete a diferença de diagnósticos ou a forma como as garotas manifestam os sintomas no transtorno. Mulheres com autismo tendem a compensar ativamente seus sintomas de forma que os homens não fazem, o que pode contribuir para a discrepância, diz Skuse.

Como resultado, as garotas envolvidas nos estudos talvez tendem a ser mais severamente afetadas e a carregar mutações múltiplas. “Há alguma sugestão de que as garotas de maior funcionamento estão na população em geral”, ela diz.

O estudo também não conclui porque as garotas com autismo transmitem mais mutações, ou como elas são protegidas do autismo.

“Nós precisamos nos perguntar qual a causa no desenvolvimento cerebral que faz com que as garotas fiquem mais protegidas – porque, em última instância, é o que nós queremos saber”, diz Aravinda Chakravarti, diretora do Centro de Doenças de Genoma na Johns Hopkins University School of Medicine, em Baltimore. “Nós precisamos recriar esse ambiente de desenvolvimento”

A mais óbvia explicação do “preconceito de gênero” do autismo é porque os homens têm apenas um cromossomo X e eles são hipersensíveis às mutações deste. Seguindo esta teoria, vários genes do autismo estão ligado àquele cromossomo. No entanto, a maioria das mutações que demonstram um preconceito de gênero no novo estudo não estão no cromossomo X, sugerindo, assim, que outros fatores possam estar envolvidos.


Artigo publicado na Scientific American e Simons Foundation Autism Research Initiative com o título Girls protected from autism. 10 de Março de 2014.


Referências Bibliográficas:

Jacquemont S.. A higher mutational burden in females supports a “female protective model” in neurodevelopmental disorders. American Journal of Human Genetics. Feb 27, 2014.

Levy D.. Rare de novo and transmitted copy-number variation in autistic spectrum disorders. Neuron. May 15, 2011.

Josikwylkson Costa Brito

Josikwylkson Costa Brito

Olá, meu nome é Josikwylkson Costa Brito e nasci na cidade de Campina Grande, na Paraíba, onde moro atualmente. Tenho 21 anos, estou no quinto ano do curso de medicina e publico textos de cunho científico ou filosófico no Universo Racionalista.