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A compulsão e o abismo entre sintomas psiquiátricos e mecanismos cerebrais

Por Michael Hotchkiss
Publicado na Princeton University

Pesquisadores de diversas instituições, incluindo a Universidade de Princeton, têm usado um sistema online de larga escala para estudar e estabelecer conexões entre condições psiquiátricas e mecanismos subjacentes do cérebro.

A pesquisa incluiu quase 2.000 pessoas que responderam cerca de 300 questões acerca de sintomas de diversos transtornos psiquiátricos, e completaram uma tarefa computadorizada que investiga a acuidade do cérebro ao controlar hábitos.

Os pesquisadores, da equipe de Nathaniel Daw, um professor do Instituto de Neurociência e do Departamento de Psicologia da Universidade de Princeton, usaram os resultados para identificar a compulsão como um fator em comum em pessoas que reportaram sintomas de diversos transtornos, como o transtorno obsessivo compulsivo- TOC, abuso de drogas, e transtornos alimentares.

A equipe foi também capaz de estabelecer que a compulsividade– repetição de certos comportamentos, apesar dos danos que estes causam- estava ligada a um problema na forma que o cérebro substitui hábitos, enquanto este equilibra a tomada de decisão automática e deliberada.

“Essa descoberta é importante, pois ela conecta esses transtornos a um conjunto de mecanismos que os cientistas estão começando a entender, ” Daw disse. “Um dos maiores problemas dos transtornos psiquiátricos é que nós não entendemos o que os médicos chamam de etiologia- como eles surgem a partir de uma disfunção física particular que pode ser tratada. Com essa pesquisa, nós estamos começando a estabelecer essa ligação.”

O trabalho foi detalhado no artigo “Characterizing a psychiatric symptom dimension related to deficits in goal-directed control,” (Caracterizando uma dimensão de sintomas psiquiátricos relacionados a déficits no controle de objetivos, tradução livre), publicado em março de 2016, pelo jornal eLife. Junto com Daw, os autores são Claire Gillan, Ph.D., uma pesquisadora da Universidade de Nova York e da Universidade de Cambridge; Michal Kosinski, um professor de comportamento organizacional na Universidade de Stanford; Robert Whelan, professor de psicologia na Universidade de Dublin; e Liz Phelps, professora Julius Silver de psicologia e neurociência na Universidade de Nova York.

A pesquisa foi uma das primeiras a analisar uma teoria computacional sobre como o cérebro funciona em um grande grupo de pessoas, e relacioná-la com sintomas auto relatados, disse Quentin Huys, um pesquisador afiliado da Unidade de Neuromodelagem da ETH Zurique e da Universidade de Zurique.

“Eu acho que é realmente inovador relacionar teorias especificas sobre como nós tomados decisões até a distribuição de sintomas que experimentamos, ” disse Huys, de qual a pesquisa é focada em psiquiatria computacional.

A descoberta de que uma dimensão comum baseia uma série de transtornos psiquiátricos, oferece uma nova maneira de pensar acerca de tais transtornos, que poderiam ser solucionados com a atual maneira de defini-los, na qual sintomas e diagnósticos frequentemente se sobrepõem.

“Um dos maiores problemas na pesquisa psiquiátrica–  e também tratamento eficaz- são os complicados padrões de variação e sobreposição em diferentes transtornos, como ansiedade e depressão”, disse Daw. “Ao disponibilizar testes online de larga escala, nós fomos capazes de provocar uma separação entre as dimensões sobrepostas dos transtornos e melhor relaciona-los a funções cognitivas”

Daw continua com sua pesquisa focada em entender a relação entre sintomas psiquiátricos e mecanismos do cérebro, em seu posto como pesquisador no Centro Rutgers-Princeton de Neuropsiquiatria Cognitiva Computacional.

Débora Queiroz

Débora Queiroz

Ama quebra-cabeças e acredita que o cérebro é a figura mais complexa, e por isso seu maior prazer é monta-la. Aspirante a neurocientista, e atualmente aluna de iniciação cientifica da UNESP- Assis em psicologia ambiental com ênfase em neuroplasticidade.